Um dos filósofos que mais influenciou as revoluções francesa e americana, Voltaire foi um proeminente crítico da Igreja Católica e sua relação com o Estado, defensor da liberdade de expressão e de religião. Foi classificado como um "polemista satírico" em sua época, por utilizar seus trabalhos para criticar a intolerância, as instituições e dogmas religiosos. Seu nome era François-Marie Arouet, Voltaire foi o pseudônimo, um anagrama adaptado de seu nome, que utilizou em muitas de suas obras, a partir de sua prisão na Bastilha em 1718. Atualmente sabemos que Voltaire utilizou ao menos outros 178 pseudônimos durante a vida.
Voltaire foi um defensor da hipótese poligenista, segundo a qual cada variação da espécie humana teria uma origem diferente e, de acordo com William Cohen, o tipo de humanidade poderia ser diferente entre um tipo de humano e outro. Particularmente, Cohen afirma que, para Voltaire, pessoas negras não possuiriam o mesmo tipo de humanidade que pessoas brancas. Esta posição levou a confusões acerca da posição de Voltaire quanto a escravidão. Tal confusão é, em parte, esclarecida quando o autor comenta a obra de Montesquieu, afirmando que, embora o autor esteja errado sobre muitas coisas, esteve sempre certo ao criticar os fanáticos defensores da escravidão.
Sua posição poligenista foi particularmente importante em sua rejeição aos dogmas da igreja, especialmente a ideia de que a humanidade teria surgido a partir de um único casal, Adão e Eva, cuja história seria relatada na bíblia cristã e defendida pela Igreja Católica. Embora a Igreja Católica fosse seu principal adversário, Voltaire era crítico das três grandes religiões abraâmicas patriarcais, o judaísmo, cristianismo e islamismo, classificando-as como absurdas e ridículas, com especial enfase para as tentativas de imposição da fé por meio da lei e da guerra. Por outro lado, Voltaire mostrou-se particularmente simpático ao hinduísmo, manifestando seu apreço pelo respeito aos animais, que ele via como característico daquela religião. Utilizou-se também da antiguidade do hinduísmo como evidência contra os argumentos bíblicos.
No ensaio Des singularités de la nature, Voltaire defende o preformismo, a ideia de que organismos desenvolvem-se a partir de versões menores de si mesmos, a existência de um ser supremo e a ideia de que certos elementos da natureza foram propositalmente criados para beneficiar os seres humanos, demonstrando assim que, embora seja um propositor da inteligência dos animais, mantinha uma posição centrada na humanidade. Segundo ele, por exemplo, montanhas eram especialmente projetadas para tornar a vista agradável.
Em termos políticos, na percepção de Voltaire, a burguesia francesa era pequena e ineficiente, a aristocracia parasita e corrupta, e a igreja estática e opressora. Desconfiou da democracia, defendendo que esta serviria apenas para perpetuar a ignorância e a grande quantidade de analfabetos existente na França, já que os indivíduos que exerceriam esta democracia eram os próprios ignorantes e analfabetos, sem conhecimento e experiência politica para dirigir os rumos da nação. "Democracia" para Voltaire significa democracia direta.
Inicialmente Voltaire defendeu que, com as instituições de seu tempo, seria necessário um rei iluminado para promover qualquer mudança significativa, e que seria do interesse deste rei promove-las, uma vez que um povo que vive em melhores condições e com melhor educação seria capaz de compreender o papel do rei neste cenário. Em correspondência à Catarina, a Grande, Voltaire defendeu que de todas as coisas grandiosas, quase nenhuma foi realizada por alguém que não fosse um gênio com firmeza, que levanta-se sozinho para combater os preconceitos da multidão. No entanto, após analisar o comportamento do rei Frederick, o Grande, Voltaire concluiu que não havia esperança na monarquia, passando a defender que caberia ao povo francês realizar as mudanças necessárias.
Referências bibliográficas:
Falcon, Francisco José Calazans. Iluminismo. Editora Ática, São Paulo. 1994.
Fortes, Luiz Roberto Salinas. O iluminismo e os reis filósofos. Brasiliense. 1981.
Morley, J., The Works of Voltaire, A Contemporary Version, (21 vol 1901)
Mackey's Encyclopedia of Freemasonry. Voltaire. 2011.
VOLTAIRE. Dicionário filosófico. Tradução Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2006.