Totalitarismo

Por Camila Betoni

Mestrado em Sociologia Política (UFSC, 2014)
Graduação em Ciências Sociais (UFSC, 2011)

Categorias: Formas de Governo, Política
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O termo totalitarismo passou a ser utilizado em meados do século XX para designar regimes políticos extremamente autoritários, capazes de controlar não só o poder do Estado, como também todo o corpo social de uma nação, incluindo suas esferas privadas. Diferentemente de outras tiranias do passado, o totalitarismo carrega como característica única essa capacidade de embrenhar-se em todo o tecido social, exercendo poder em todas suas partes. Há, na Sociologia Política, uma longa discussão sobre quais regimes poderiam ser efetivamente considerados como totalitários. Esse debate se dá principalmente a partir da obra da filósofa alemã Hannah Arendt, que publicou em 1951 o livro As Origens do Totalitarismo. Nele, Arendt discorre sobre o stalinismo e o nazismo como os dois grandes exemplos de regimes totalitários. Tal aproximação entre os dois regimes, que possuem suas especificidades históricas, é objeto de muitas discordâncias. Entretanto, vejamos as características que são traçadas como específicas dessa forma de exercício de poder nomeada totalitarismo.

É essencial que regimes totalitários se fundamentem em uma ideologia forte, que apresente uma explicação para tudo, que não abra brechas para questionamentos e que critique o estado das coisas, apontando os caminhos para a sua transformação. São grandes narrativas capazes de explicar de maneira total a história, dispensando qualquer verificação ou comparação com o mundo real. Essa forma de discuso autoritário justifica grandes atrocidades, como a perseguição e eliminação de tudo o que se apresenta como um empecilho para a realização de seu curso natural. Tais ideologias oficiais – função cumprida por uma interpretação peculiar do comunismo no stalinismo e pela supremacia racial no nazismo – devem se instaurar em todo os aspectos da existência social, subordinando a si não só a imprensa, o rádio e o cinema, mas também atividades aparentemente “apolíticas”, como os esportes e a literatura. Todas as esferas devem se colocar em serviço da propagação ideológica.

Os regimes totalitários apresentam um partido único que se sustenta no apoio incondicional das massas. Impulsionado pela ideologia do regime, o partido único é a encarnação do próprio Estado e exerce seu poder de forma aleatória, obedecendo apenas seus próprios critérios e não respeitando qualquer outra barreira moral ou jurídica. Tal partido exerce autoridade e cobra da população completa fidelidade aos seus princípios. Para exercer esse domínio, o papel da propaganda é fundamental na missão de convencer a população a fazer o que for preciso para defender e propagar a ideologia oficial. Na cabeça deste partido único, encontra-se sempre um grande líder, um ditador que será o responsável exclusivo por interpretar a ideologia e suas aplicações da forma que considerar mais adequada.

Por fim, o clima de terror constante é essencial para o bom funcionamento de um regime totalitário. Os aparatos repressivos militarizados cumprem um papel central na manutenção da ordem. A presença da polícia secreta – apoiada em tecnologias avançadas de espionagem e, principalmente, técnicas psicológicas sofisticadas – cria um clima onde todos se sentem sob constante vigilância. Muitas vezes a vigilância é exercida pela própria população civil que apoia o regime, o que torna as dissidências de todos os graus extremamente perigosas. Para Hannah Arendt - que, como judia, foi diretamente atingida pelo nazismo –, o totalitarismo não destrói apenas a vida pública de uma pessoa, mas acaba com sua própria humanidade ao controlar as esferas privadas. Para ela, esses regimes visavam a própria transformação da natureza humana, criando seres absolutamente obedientes.

Bibliografia:
BOBBIO, Nobert. Dicionário de política. Brasília: Editora UnB 11ed, 1998
06ARENDT, Hanna. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989

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