Por Ana Lucia Santana
Quando o viajante da modernidade chega ao município de Chartres, sua primeira visão, magnífica e grandiosa, é a mesma que encantou os religiosos do século XIII que peregrinavam até a Catedral francesa medieval denominada Notre-Dame. Suas cúpulas se elevam até os céus da cidade e sua arquitetura gótica é de tirar o fôlego.
A Catedral de Chartres teve início em 1145 e, depois de 1194, após um trágico incêndio, ela foi novamente estruturada. Este mítico recanto atrai inúmeros fiéis que por lá passam para contemplar o véu que crêem ser de Maria, que o usava no momento do parto de Jesus, o qual não foi destruído pelo fogo que consumiu boa parte da Catedral.
Sua construção representa o ápice do movimento artístico gótico que vigorou na França neste período. A imensa nave em forma de ogiva, a decoração composta com esculturas pertencentes ao século XII e as suntuosas janelas que filtram em seus vitrais coloridos os raios solares, gerando fascinantes efeitos de cores brilhantes, são as peças que conformam esta joia da arquitetura francesa. Sua área total transcende os 10000 m2, e a extensão atinge os 46 metros.
Entre as mais de 150 janelas que apresentam vitrais hipnotizantes, é possível ver as imagens mais belas, como um homem deixando o portal de uma cidade murada, tendo ao fundo um copo de cobalto, metal branco e avermelhado; outro ser vestido de verde pronto para atuar, retirando de sua bainha uma espada, sobre um fantástico cenário de coloração rubi, desafiando um indivíduo com uma túnica azul e sobre os ombros um manto amarelo; estas cores se mesclam iluminando a parte interna da Catedral.
Nestes 2.500 m² de vidros repletos de cores, destacam-se também três rosáceas célebres, entre elas a Rosácea do Juízo Final, que data mais ou menos de 1215. Predomina na Catedral a cor famosa como ‘azul Chartres’, impressa eternamente nos vitrais deste templo. Algumas janelas retratam episódios famosos das Sagradas Escrituras, os quais tinham como objetivo traduzir as ideias do Cristianismo para os peregrinos ignorantes que visitavam o local.
A Catedral, arquitetada originalmente por Fulbert, foi sacralizada no dia 24 de outubro de 1260, perante o monarca Luís IX. O único soberano a ser investido em uma cerimônia religiosa neste templo foi Henrique IV. Sua reedificação consumiu 60 anos, e o acréscimo mais significativo foi a torre localizada na parte noroeste, intitulada Clocher Neuf, entregue em 1513.
A face do Ocidente, denominada Pórtico Real, destaca-se por apresentar várias esculturas do século XII; a porta mais importante revela o relevo de Jesus em estado de glória; a nave transversal do sul exibe a história do Juízo Final por meio de ícones do Evangelho; o pórtico do norte está mais centrado no Antigo Testamento e na previsão da vinda do Messias.
Na superfície da nave, na sua esfera central, há um imenso círculo de mármore preto e branco, fixado entre as pilastras, que constitui praticamente a essência da Catedral, embora seja um símbolo pagão, o famoso labirinto de pedra. Embora ele tenha somente 13 metros de extensão, seu caminho repleto de curvas atinge os 261 metros, representando a viagem dos peregrinos na direção da Terra Sagrada, por isso mesmo conhecido como A Jornada para Jerusalém. Parece haver uma ligação mística entre as profecias sobre esta cidade sagrada, considerada na Idade Média o centro do Planeta, e reproduzida neste templo pelo labirinto, e a narrativa do Juízo Final, retratada nos vitrais.