O Apólogo é um gênero alegórico em que os personagens são animais, plantas, objetos ou até partes do corpo humano, trazendo um ensinamento de vida por meio de situações semelhantes às reais.
Por meio da utilização de exemplos, o apólogo tem o objetivo de refletir sobre os conceitos humanos, visando modificá-los rumo a uma mudança paradigmática dede ordem moral e/ou social.
A origem do apólogo, embora situada no oriente, está presente na literatura de todos os povos. Em termos semânticos, o termo advém do grego apólogos, que significa “narrativa detalhada”, junção de apo, “afastado, para fora”, com Logos, “palavra, discurso”.
Trata-se de um gênero bastante semelhante à fábula, embora, à diferença da última, se concentre em situações reais. Em relação à parábola, a diferença reside no fato de o apólogo tratar de todos os tipos de lição e não apenas questões as religiosas e morais, como no caso da primeira.
Os apólogos são geralmente escritos em prosa, com enredos de considerável força imaginativa, buscando a evolução moral do leitor, por meio do auto-sacrifício, renúncia e abdicação de algo ou alguém por uma causa maior. Daí o caráter moral predominante.
Entre as manifestações mais antigas do gênero, destaca-se o Apólogo de Jotão, presente na Bíblia Judaica (Antigo Testamento) em Juízes 9:7-21. O texto narra a história de quatro árvores que foram convidadas para reinar na floresta, ensinando aos leitores sobre as consequências de nossas escolhas. Daí a origem do provérbio popular que afirma que “colhemos o que plantamos”.
Muito tempo depois, na Espanha do século XVII, tornaram-se notáveis dois representantes do gênero: Os Apólogos dos Sonhos, de Quevedo, e o Colóquio dos Cachorros, de Cervantes.
Na Literatura Brasileira, os principais autores que se dedicaram ao gênero são: D. Francisco Manuel de Melo (Apólogos Dialogais, 1721); João Vicente Pimentel Maldonado (Apólogos, 1820); Machado de Assis (Um Apólogo, integrante do volume Várias Histórias, de 1896); e Coelho Neto (Apólogos, 1904).
O conto de Machado, provavelmente o mais célebre apólogo da história da literatura brasileira, narra a história de orgulho, ciúmes e vaidade que levam uma agulha e uma linha a uma polêmica acalorada em que ambas procuram provar sua superioridade em relação à outra. No fim, na ausência de acordo entre as partes, o autor termina com uma lição de moral pesarosa: “Contei esta história a um professor de melancolia, que então me disse, abanando a cabeça: Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!”.
A mensagem contida no conto revela como os sentimentos negativos podem minar uma relação que, a princípio, seria bastante produtiva. A agulha é o complemento natural da linha, de modo que uma precisa da outra para desempenhar sua função a contento. A partir do momento em que uma tenta se sobrepor à outra em termos de importância, quebra-se essa relação e todos saem perdendo.
Por meio de tais narrativas, ensinam-se, sobretudo, lições didáticas de convivência.