A prosa é o texto no estilo natural, sem a sujeição às convenções que imperam no domínio da poesia (rima, ritmo, métrica, sílabas, musicalidade). Trata-se do estilo mais utilizado na linguagem do cotidiano, especialmente adequado para expressar o pensamento racional, dado os atributos analíticos e objetivos de sua forma discursiva.
Os contos, crônicas, novelas, romances, cartas, ensaios, além dos textos acadêmicos, jornalísticos e publicitários, são exemplos de texto em prosa. Desse modo, existem modalidades de prosa literária e prosa não literária.
Em termos históricos-estilísticos, o crítico russo Mikhail Bakhtin traça uma oposição entre a linguagem macrocósmica da prosa e a linguagem poética. Enquanto a poesia, produzida nas altas camadas letradas, visava centralizar uma linguagem verbal-ideológica “oficial”, a prosa mergulhava nos estratos mais baixos da pirâmide social.
Isso não significa que a prosa deixe de lado a linguagem das camadas sociais mais abastadas, embora os representantes destas apareçam quase sempre caricaturados, tendo em vista que as obras literárias em prosa, pelo menos em sua origem, eram dirigidas aos estratos mais populares. Assim, operavam, a seu modo, a fusão destes universos aparentemente tão distintos, tanto na construção dos personagens, que abarcam todos os estratos sociais, como no entrecruzamento de gêneros.
Esse elemento pode ser observado com precisão nos romances do escritor russo Fiódor Dostoiévski, onde o aristocrata convive, lado a lado, com o “pobre-diabo”, assim como os gêneros clássicos, como a Tragédia e o Texto Bíblico, combinam-se com toda sorte de narrativas menores: o texto jornalístico, o melodrama, os romances de aventuras, a anedota, a paródia, a sátira, a cena de rua, o grotesco, o panfleto, etc. A profusão de vozes e discursos, que interagem de forma dialógica dão o tom “democrático” dos textos de Dostoiévski, que não foi um autor oficial em sua época principalmente por que se recusou a reproduzir em suas páginas o discurso hegemônico ou “vanguardístico” das elites econômicas e intelectuais.
Ainda segundo Bakhtin, a paródia é um elemento inseparável da prosa, que reúne em seu interior uma série de estilizações das múltiplas linguagens que compõem a opinião pública (linguagens profissionais, geracionais, dos grupos sociais etc.). Mediante a estilização, o autor pode refratar sua posição, geralmente crítica, acerca do modus operandi dos discursos oficiais e das práticas, não raro hipócritas, dos grupos no poder.
De acordo com o crítico, essa característica de diálogo com a opinião pública e os estratos que a compõem teve como precursor o romance humorístico inglês, cujo representante mais célebre é Dickens.
Apesar da prosa e da poesia serem estilos, a priori, distintos, pode-se observar a fusão entre eles na prosa poética e nos poemas em prosa. No primeiro caso, trata-se de um texto em prosa que recorre a figuras de linguagem típicas da poesia, como a aliteração, a elipse, a metáfora, e a sonoridade das frases. A aplicação desses elementos, todavia, é subordinada ao formato do discurso narrativo, que, por sua vez, incorpora o lirismo do discurso poético. Um exemplo é o romance Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa.
O segundo caso abarca a prosa gerada pelo impulso poético, por meio da liberdade formal e uma apresentação mais concisa. Contudo, embora se utilize dos recursos da poesia, se afasta da prosa poética por apresentar ritmo, harmonia e dissonâncias constantes. Um exemplo é o poema Iluminações, do francês Arthur Rimbaud.
Referências bibliográficas:
BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Tradução Paulo Bezerra. 3. ed. São Paulo: Forense Universitária, 2005.
_____. A Teoria do Romance. São Paulo: Unesp, 1988.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/generos-literarios/prosa/