Ganesha

Por Ana Lucia Santana
Categorias: Hinduísmo
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Ganesha – o ‘Senhor de todos os seres’ - é a primeira divindade indistintamente cultuada em todas as cerimônias religiosas hindus; está presente na entrada dos templos e das residências, sempre guardando estes recintos. Ele é o símbolo da sabedoria, do intelecto e das experiências, o destruidor de todas as adversidades, o guardião dos seres vivos. É aquele que sabe muito, encontra-se no auge de sua existência e maturidade, totalmente realizado.

Este deus traz fortuna, formosura, vitalidade, progresso, piedade, energia, moderação e estabilidade. Segundo algumas versões, ele é filho apenas de Parvati, ou seja, da matéria; de acordo com outras, ele foi também gerado por Shiva, a divindade da destruição e, ao mesmo tempo, da renovação de tudo que existe. Este senhor supremo dificilmente mantinha encontros íntimos com sua amada e, quando o fazia, nunca ejaculava, pois tinha um rigoroso autocontrole – Vama Tantra -, portanto não podia ter filhos, conforme a lenda mais disseminada.

Parvati decide então ter um filho por conta própria, criado a partir de substância extraída de seu corpo. A criança se torna um bravo guerreiro e protetor da morada materna. Como não conhece Shiva, não permite que ele entre na residência quando o deus decide visitar sua companheira; vence todo o seu exército, mas tem a cabeça cortada pelo colérico Shiva. Parvati se desespera e exige a volta de seu primogênito.

A divindade envia seus soldados na direção norte, incumbidos de lhe trazerem a cabeça do primeiro ente vivo com que se deparassem. Desta forma eles imediatamente se viram diante de um elefante, entregando sua cabeça ao deus como prometido. Ele insere este membro no corpo da criança e lhe devolve a vida, instituindo que ele deveria ser cultuado em todas as cerimônias sagradas. Ganesha se torna então filho de Shiva e igualmente um deus.

Cada elemento em sua cabeça tem um simbolismo próprio. As marcas sobre a testa simbolizam três dimensões cósmicas – os reinos inferiores, a Terra e o Paraíso. As orelhas representam a formação espiritual; os olhos transcendem o universo dualista, veem a essência divina em cada um. A tromba é o reflexo do intelecto, enquanto as garras indicam a presença das esferas material e espiritual, o negativo e o positivo, Ying – o feminino - e Yang – o masculino-, entre outras contraposições. A barriga relevante significa a o poder de digerir qualquer vivência, e também a fartura.

Os braços também estão embebidos de uma profunda carga simbólica, descrevendo as quatro qualidades corporais – psique, corpo, razão e consciência. Na mão direita, a presença de uma machadinha revela a necessidade de se desvincular dos bens materiais; na outra que fica sob a primeira, está o emblema do OM, mantra que traz o progresso e a coragem; na esquerda superior o laço simboliza a fecundidade natural; na inferior encontra-se o gadu, um doce de grão-de-bico recoberto de açúcar, ou doce de leite com arroz, que traz em si a conotação da realização intelectual. O rato que o acompanha indica que todos devem buscar a sagacidade e a presteza nas atitudes. Finalmente, a serpente representa o vigor físico e vela pelos mistérios telúricos.

Sua história revela que, ao conhecer as realidades elevadas, simbolizadas por Shiva, ele renasce e, ao se despojar de suas dependências materiais, de sua forma individual, ele conquista a verdade fundamental, a transcendência. Desta forma ele adquire a real sabedoria.

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