Em 1989, os brasileiros puderam eleger o seu representante no cargo executivo mais alto de um país após 29 anos sem eleição direta. Mais de 20 candidatos concorreram ao cargo e do primeiro turno saíram vitoriosos dois nomes: Fernando Collor de Mello e Luis Inácio Lula da Silva. Enquanto Lula se apresentava como candidato dos trabalhadores e excluídos do Brasil, Collor apresentava-se como o condutor do país para a “modernidade” e líder contra o fim da corrupção e pobreza, apresentando-se como “caçador de marajás” e “protetor dos descamisados”. Collor sagrou-se campeão no segundo turno com 42,75% dos votos contra 31,07% de Lula.
No dia seguinte ao da posse, em 15 de março de 1990, Collor anunciou um plano econômico, encabeçado pela ministra da economia Zélia Cardoso de Melo. Alguns pontos estabelecidos foram:
- Reforma administrativa com demissão de funcionários públicos;
- Abertura comercial ao capital estrangeiro;
- Eliminação de incentivos fiscais às industriais;
- Liberalização da taxa de dólar;
- Privatização das empresas estatais;
- Congelamento de preços e salários;
- Instauração de “nova moeda”
- Bloqueou todo o dinheiro, acima de 50 mil cruzados novos, depositados em contas bancárias de pessoas e empresas;
Esse último item causou grande insatisfação e o Plano Collor fracassou totalmente: falências, quedas nas vendas e do poder aquisitivo e demissão dos trabalhadores, formando legião de desempregados.
A recessão na economia gerou uma insatisfação popular que foi potencializada a partir de uma série de escândalos de corrupção envolvendo o governo Collor, como o “esquema Collor-PC”, revelado a partir de entrevista concedida à imprensa pelo irmão do presidente, Pedro Collor. Foram apontadas irregularidades financeiras, tráfico de influências, existência de contas bancárias fantasma, ou seja: uma vasta rede de corrupção que era comandada pelo ex-tesoureiro da campanha presidencial Paulo César Farias. Ele seria responsável por receber altas somas de dinheiros de grandes empresários para liberar verbas para o governo e para o pagamento de despesas pessoais do então presidente.
Em maio de 1992 o desgaste político chegou ao limite com a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), responsável por verificar as denúncias e encaminhar um possível processo de Impeachment. Ciente da gravidade das acusações, Collor fez no dia 13 de agosto um discurso de improviso onde pediu que o povo saísse as ruas vestindo as cores da bandeira nacional em forma de manifestar apoio e ser contrário ao impeachment.
Ao invés do verde e amarelo sugerido pelo presidente, alguns jornais circularam com uma tarja preta na primeira página e milhares de pessoas foram para as ruas demonstrar insatisfação com o presidente “Collorido”. Em várias partes do país, surgiram manifestações populares exigindo a saída do presidente.
Entre os manifestantes, havia um enorme número de estudantes secundaristas e universitários participavam ativamente das manifestações e eram apoiados por entidades representativas da sociedade civil como OAB, ABI, CUT, UNE e UBES. Utilizando como hinos canções de protesto que foram compostas durante o Regime Militar como Alegria, Alegria e Pra dizer que não falei das flores, essa nova geração agitava faixas e cartazes com os dizeres “Fora Collor!!” e “Abaixo a Corrupção”.
Esse movimento que foi fundamental para o processo de impeachment de Fernando Collor ficou conhecido como “Caras pintadas” pelo fato dos jovens pintarem o rosto com as cores da bandeira nacional em forma de protesto contra a falta de ética na política.
Bibliografia:
Historia: das cavernas ao terceiro milênio / Patricia Ramos Braick ; Miriam Becho Mota. – 2.ed – São Paulo: Moderna, 2006.
História: sociedade & cidadania – Edição reformulada, 9° ano / Alfredo Boulos Junior. – 2.ed. – São Paulo: FTD,2012
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/caras-pintadas/