A manutenção do regime militar por 21 anos não foi realizada a partir do consenso popular, nem mesmo das elites. Diversos movimentos se destacaram na luta contra a ditadura e um deles foi a Frente Ampla, composta por figuras públicas bastante conhecidas: Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda.
Criada em 1966, a Frente Ampla agrupou diversas correntes políticas de esquerda e tinha como consenso entre seus integrantes a busca pelo retorno à democracia. O grupo tinha como reivindicações o retorno às eleições diretas, anistia, retorno ao pluripartidarismo e ao direito de greve.
A Frente Ampla realizou entre os anos de 1966 e 1968 diversos comícios e manifestações de rua.
Conflito com o governo
A curiosa aliança entre antigos inimigos, Carlos Lacerda e aqueles que tanto criticou em seus artigos, João Goulart e Juscelino Kubitschek, iniciou-se a partir do afastamento de Lacerda da direita, após a edição do AI-1 que anulou as esperanças de Lacerda sobre as eleições de 1965, que seriam realizadas pelo voto indireto. A partir desse momento, Lacerda, que antes era visto como uma das principais lideranças civis do Golpe de 1964, passa a ser um de seus maiores críticos.
A oficialização do movimento se deu em 27 e setembro de 1966, quando Carlos Lacerda publicou em seu jornal, Tribuna da Imprensa, um manifesto no qual exigia eleições diretas, desenvolvimento econômico, reforma partidária e uma política externa soberana.
O conflito com o governo começou quando Lacerda iniciou uma mobilização da esquerda em prol de sua candidatura para futuro Presidente da República. A Frente Ampla passou a ser vista como uma possibilidade de restauração da condição anterior ao Golpe de 1964, o que fez com que Costa e Silva decretasse sua ilegalidade em abril de 1968. O crescimento do movimento a partir de grandes mobilizações realizadas em cidades do ABC Paulista, Londrina e Maringá levou o governo a combate-lo antes que ganhasse proporções maiores.
Conjugada ao movimento estudantil, a Frente Ampla passou a ser vista como uma ameaça aos militares. O movimento estudantil tinha a simpatia popular, o apoio de parte da Igreja Católica e da intelectualidade, ainda mais após a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto em uma manifestação devido ao atraso da obra do restaurante do Calabouço. A reação desproporcional da polícia, que levou a morte do estudante, provocou grande comoção pública que foi de encontro aos comícios realizados pela Frente Ampla naquele contexto.
Em dezembro daquele mesmo ano, 1968, foi editado o AI-5, que permitiu a cassação do mandato de Lacerda e sua prisão. O líder da Frente Ampla perdeu seus direitos políticos por dez anos, mas conseguiu ser liberto após uma greve de fome de uma semana.
A morte das lideranças
Após a declaração de ilegalidade da Frente Ampla, o movimento foi encerrado rapidamente, teve vida curta. Seus líderes também não sobreviveram para ver o retorno à democracia no Brasil.
Em um intervalo de dez meses, os três líderes vieram a óbito. Juscelino morreu em 22 de agosto de 1976, em um acidente de carro na Via Dutra. Em 6 de dezembro de 1976, João Goulart morreu em Mercedes, na Argentina, devido a um ataque cardíaco. Lacerda morreu em 21 de maio de 1977 devido a uma infecção no coração após ter sido internado por desidratação. Há suspeitas de que essas mortes estejam relacionadas a Operação Condor, montada em 1975 entre militares do Chile, Argentina, Brasil e Paraguai a fim de combater seus opositores.
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Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/frente-ampla/