Greve Geral de 1917

Mestre em História (UERJ, 2016)
Graduada em História (UERJ, 2014)

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A Greve Geral de 1917 foi um movimento urbano de paralisações no trabalho iniciadas por empregados de fábricas do setor têxtil na cidade de São Paulo, em julho de 1917. Desde o início do ano de 1917, houve paralisações nas fábricas da cidade, reivindicando melhores condições de trabalho e aumento salarial que ao longo daquele ano difundiram-se até constituírem uma Greve Geral no mês de julho. A carestia e o aumento da carga horária de trabalho foram os fatores materiais que levaram os trabalhadores a suspender dias de exercício das funções que realizavam. E a emergência dos ideais anarquistas e socialistas foram os fatores subjetivos necessários à expansão do movimento grevista.

A conjuntura internacional da Primeira Guerra Mundial e do crescimento dos movimentos operários impactaram a política e a economia brasileiras, inclusive, influenciando o desencadeamento da Greve Geral. A ampliação da exportação de insumos básicos da alimentação aos países aliados na Primeira Guerra Mundial gerou aumento dos preços no mercado interno e acarretou na carestia que atingiu, sobretudo, os trabalhadores. A ampliação da exportação dos produtos nacionais também ocasionou o aumento da carga horária de trabalho para a ampliação da produção voltada ao mercado externo. Já o crescimento dos movimentos operários pelo mundo possibilitou aos trabalhadores o desenvolvimento teórico que os respaldou. No caso da Greve Geral, em São Paulo, destacou-se a interpretação do “anarcossindicalismo” dos pensadores Malatesta e Sorel.

O movimento grevista de 1917 foi composto, sobretudo, por imigrantes italianos. Esses imigrantes trouxeram do país de origem os ideais anarquistas e socialistas que embasaram a greve. E não somente os operários eram majoritariamente italianos, também predominavam entre os proprietários das fábricas os imigrantes dessa nacionalidade que já haviam entrado em contato anteriormente com a forma de organização dos trabalhadores na Itália. A participação da Itália na Primeira Guerra Mundial era outro elemento que se somava ao conflito entre patrões e empregados, pois havia quem era favorável à entrada do país na guerra e aqueles que eram contrários. Havia, inclusive, a obrigatoriedade de doação de parcela do salário dos trabalhadores ao Comitê Italiano Pró-Pátria de São Paulo que enviava verbas para o empenho bélico da Itália na Grande Guerra. Entre as pautas da greve da fábrica Crespi estava a abolição dessa contribuição. (Cf. BIONDI)

O cotonifício Crespi foi a primeira indústria na qual eclodiram paralisações. Os trabalhadores do cotonifício estavam insatisfeitos com a nova exigência do trabalho noturno e, por isso, entraram em greve para reivindicar, além da extinção da contribuição ao esforço bélico italiano, aumento salarial e a regulamentação do trabalho de mulheres e crianças. Esse movimento grevista influenciou o desencadeamento de paralisações em outras fábricas. E as greves disseminaram-se rapidamente entre as pequenas oficinas e fábricas de grande porte como Crespi, Antarctica, Fábrica Mariangela de Matarazzo, Estampería Matarazzo, Tecidos de Juta, Lanifício De Camillis. (Cf. Idem)

Para coordenar as greves, foi criado o Comitê de Defesa Proletária, em 9 de julho, composto por lideranças sindicais anarquistas e socialistas. Além das paralisações, houve também em julho embates de rua com assaltos e com ataques à cavalaria da polícia. Nesses protestos de 11 e 13 de julho ocorreram as mortes de Nicola Salermo, José Gimenez Martinez e da menina Edoarda Bindo que causaram comoção popular e praticamente destituíram os poderes de governo na cidade. (Cf. Idem)

Somente em 14 de julho, houve a assinatura de um acordo entre empresários, o secretário de segurança pública Eloi Chaves e o Comitê de Defesa Proletária. Nesse acordo, os empresários e os secretários comprometiam-se em não fazer retaliações aos operários grevistas, em aumentar os salários, em libertar os operários que foram detidos em manifestações e garantir o direito de reunião. Apesar dessa negociação, o movimento grevista alcançava o ápice e, em 16 de julho, as greves espalhavam-se por cerca de 90 estabelecimentos e contavam com quase cinquenta mil trabalhadores. Somente no final do mês de julho ocorreu o descenso do movimento com a diminuição de grevistas e de estabelecimentos com operários em greve. (Cf. Idem)

A Greve Geral de 1917 foi o primeiro movimento grevista expressivo ocorrido até aquele momento no Brasil. Como punição aos grevistas, muitos foram expulsos do país com a aplicação da Lei Adolfo Gordo (de 1907) que tinha como foco desmobilizar o anarcossindicalismo. Os líderes sindicais Teodoro Monicelli e Luigi Damiani tiveram que retornar à Itália com a aplicação dessa lei. A legislação trabalhista da década de 1920 também foi criada a partir das necessidades de respostas ao movimento grevista e como forma de contenção de sublevações. Após a Greve Geral de 1917 ressurgiram ligas de ofício que existiam antes de 1914 e surgiram várias ligas operárias (Cf. Idem). O período ascensional do movimento operário perdurou de 1917 a 1920, irradiando-se para as regiões periféricas da cidade de São Paulo e para a cidade do Rio de Janeiro.

Referências:

BIONDI, Luigi. “Greve geral de 1917 em São Paulo” (Verbete). In: ABREU, Alzira (org.). Dicionário Histórico-Biográfico da Primeira República. Rio de Janeiro: FGV, 2015.

CALMON, Pedro. “Em tempo de Guerra”. In: História social do Brasil, volume 3: a época republicana. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 191-200.

KORNIS, M. & SANTANA, M. A. Greve. Disponível em: https://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/greve. Acessado em 1º de março de 2020 às 10h e 22 minutos.

Arquivado em: Brasil Republicano
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