A Ação Popular (AP) foi criada por quadros políticos que pertenceram à Juventude Universitária Católica (JUC). Segundo o historiador Jacob Gorender, a AP originou-se em uma Conferência realizada em Belo Horizonte, em junho de 1962. Já para o historiador Daniel Aarão Reis Filho, a AP foi construída no Congresso em Salvador no qual foi publicado o Documento-base da organização, em fevereiro de 1963. Desde o início, a organização já se declarava socialista e propunha um projeto político socialista para o Brasil, indicando a necessidade de mudanças no socialismo real desenvolvido, principalmente, na URSS, na China e em Cuba.
Apesar de a Ação Popular ter sido criada por militantes da juventude católica, a nova organização não tinha caráter confessional. A AP tinha o objetivo de atuar nos movimentos sociais no Brasil, sobretudo, nas causas camponesas e operárias, a fim de conduzir o rumo político do país para o socialismo de cunho humanitário. Após o Golpe Militar de 1964, a AP realizou uma reorientação política, apontando a luta armada como uma via necessária para a instauração do socialismo no Brasil.
Em 1966, militantes da AP articularam o Atentado do Aeroporto dos Guararapes, visando atingir o general Costa e Silva. Esse atentado foi o precursor desse gênero de ação no período da ditadura militar (1964-1965). Na época do atentado, militantes da organização já mantinham contatos na China e em Cuba, no entanto, até então não havia uma centralização política da AP que a orientasse para uma tática específica de luta armada. Somente em 1968, a AP optou pelo maoísmo como leitura de sociedade e como estratégia política com o objetivo de implantar o socialismo no Brasil. Desse modo, a atuação no meio campesino ganhou destaque para a organização, além de possuir notável trabalho nos movimentos estudantil e operário. Em seguida à adoção do maoísmo, houve na AP a ruptura do grupo que fundou o Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT).
A opção pelo maoísmo aproximou a Ação Popular do Partido Comunista do Brasil (PC do B). O governo chinês reconhecia o PC do B como um partido comunista de fato, já a AP era considerada apenas como organização anti-imperialista. A partir do estreitamento do vínculo com o PC do B, a AP asseverou a adoção da linha política marxista-leninista, alterando a própria nomenclatura para Ação Popular-Maxista-Lenisnista (AP-ML). Na sequência desse processo, o recém criado Comitê Central da AP-ML convocou a reunião dos marxistas leninistas em um único partido, implicando a incorporação da organização ao PC do B, em 1973. A parcela minoritária de militantes da Ação Popular que não aderiu ao PC do B manteve a atuação sob a sigla da AP-ML, entre eles estiveram os ativistas Jair de Sá e Paulo Wright, expulsos da organização por não aceitarem a linha do Comando Central.
Referências:
GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Expressão Popular, 2014.
REIS FILHO, Daniel Aarão & SÁ, Jair Ferreira de. Imagens da Revolução: Documentos Políticos das Organizações Clandestinas de Esquerda dos anos 1961-1971. Rio de Janeiro: Ed. Marco Zero, 1985. p. 36-47.