A Aliança Anticomunista Brasileira (AAB) foi uma organização clandestina de extrema-direita que praticava atentados terroristas. O objetivo central da AAB era postergar o encerramento do Regime Militar (1964-1985) instituído pelo Golpe Militar de 1964. A AAB foi inspirada na famigerada Aliança Anticomunista Argentina (Triplo A) que torturava e assassinava militantes de esquerda, a partir do ano de 1973.
Anteriormente ao Golpe de 1964, já havia uma organização paramilitar anticomunista chamada “Grupo Secreto” que realizava atentados terroristas durante o governo presidencial de João Goulart, visando impedir o avanço de organizações de esquerda que eram indiscriminadamente chamadas de “comunistas” pelos integrantes desse grupo.
Em 1976, a Aliança Anticomunista Brasileira inicia os atentados terroristas por ela organizados. E entre os anos de 1979 e 1981, houve uma expansão desse tipo de grupo com viés “anticomunista”, dentre eles estavam os reabilitados Movimento Anticomunista (MAC) e Comando de Caça aos Comunistas (CCC); e os recém-criados: Comando Delta, Falange Pátria Nova e Brigadas Moralistas. (Cf. MAUD, 2012)
Os atentados da Aliança Anticomunista Brasileira foram efetuados na cidade do Rio de Janeiro e tinham por principais alvos entidades relacionadas aos meios de comunicação. Em 19 de agosto de 1976, foram instaladas bombas nas sedes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no entanto, apenas um explosivo foi acionado corretamente e não houve vítimas. Em 22 de setembro, houve um atentado na casa do empresário do ramo de comunicação Roberto Marinho e o sequestro e tortura do bispo dom Adriano Hipólito. Em 15 de novembro, a sede do jornal independente Opinião foi depredada. E, em 6 de dezembro, a sede da Editora Civilização Brasileira também foi atacada pelo grupo. (Cf. Idem)
Segundo a historiadora Chirio Maud, há evidências que esses grupos anticomunistas possuíam ligações com órgãos de informações das Forças Armadas (do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica – Cisa; e do Centro de Informações do Exército – CIE). E, apesar da remobilização dos movimentos sociais, ocorrida após a declaração de empenho na distensão política pelo general Ernesto Geisel, não houve contestação aos ataques cometidos por esses grupos. A historiadora destacou também que não há documentos contestando os atos desses grupos nos acervos de arquivos e que o Serviço Nacional de Informação (SNI) silenciou sobre esses atentados. (Cf. Idem)
Apesar de enunciar o intento de realizar a abertura política “lenta, gradual e segura”, o então presidente general Ernesto Geisel lançou, em 1977, o Pacote de Abril. Esse pacote consistia em um conjunto de medidas autoritárias, dentre elas o fechamento do Congresso Nacional, a criação de Senadores “biônicos”, a extensão das restrições às propagandas eleitorais promovidas pela Lei Falcão aos municípios e a ampliação do mandato presidencial para seis anos (Cf. MOTTA). Essas e outras medidas autoritárias presentes no Pacote de Abril abrandaram os atentados terroristas realizados por esses agrupamentos de extrema direita, pois davam a entender que o Regime Militar ainda se estenderia por longo tempo.
Referências:
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006.
MAUD, Chirio. A política nos quartéis: revoltas e protestos de oficiais na ditadura militar brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. p. 188-189.
MOTTA, Marly. “Pacote de Abril”. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PacoteAbril Acessado em 8 de abril de 2020 às 10h e 23m.