A descoberta da terra que viria a ser chamada de Brasil no ano de 1500 foi anunciada a D. Manuel I, monarca português, através da famosa carta escrita por Pero Vaz de Caminha (1450-1500). Este documento se constituiu em valiosa fonte para o estudo do chamado “descobrimento do Brasil” principalmente pelo fato de ter sido escrita em forma de diário de viagem, narrando os acontecimentos daquela ocasião e também as primeiras impressões sobre a terra recém-descoberta.
Caminha trabalhou como cavaleiro das casas de D. Afonso V, D.João II e D. Manuel I, acompanhando de perto o auge da expansão ultramarina portuguesa. Desenvolveu seus conhecimentos em escrita e um ano após a sua participação na Batalha do Toro (1475), tornou-se funcionário do erário régio, ao alcançar o posto de mestre da Balança da Moeda, um cargo semelhante ao ocupado anteriormente por seu pai. No ano de 1497, foi escolhido para redigir os capítulos da Câmara Municipal do Porto que deveriam ser apresentados às cortes lisboetas. Após o período de 3 anos ocupando essa função, recebeu a nomeação de escrivão da futura feitoria a ser construída em Calicute, na India. Por este motivo, Pero Vaz Caminha estava entre os tripulantes da esquadra de Pedro Álvares de Cabral.
O escrito foi levado para Lisboa por intermédio de Gaspar de Lemos, o comandante da nau de mantimentos da esquadra, permanecendo nos arquivos portugueses por mais de três séculos. O original se mantém conservado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. No ano de 1817, o historiador Manuel Aires de Casal fez a publicação do relato na obra inaugural da edição de livros no Brasil: Corografia Brasílica. A carta era um dos três testemunhos diretos do descobrimento do Brasil, juntamente com a “Relação do Piloto Anônimo” e da “Carta do Mestre João”.
Em sua carta ao rei, datada de 1° de maio de 1500, Caminha tece considerações sobre a terra encontrada e seus habitantes. O escrivão da frota de Cabral faz elogios a natureza Brasílica, diz ele: “em tal maneira é tão graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-ia nela tudo”. Esta célebre frase, aponta para as potencialidades da nova terra, formando imagem da exuberância da natureza enaltecida em outros trechos.
Este documento tem sido, desde a sua primeira publicação, objeto de diversos estudos. Inicialmente o que chamava a atenção dos estudiosos, era a chamada “questão da intencionalidade”, isto é, a intenção ou não da descoberta das terras em 1500. Isto porque embora a carta faça alusão à tempestade no Oceano Atlântico, que seria o responsável pelo desvio da rota, não revelaria nenhuma surpresa quanto à descoberta da nova terra. Na historiografia brasileira houve o embate entre os defensores da intencionalidade da descoberta como Varnhagen e os defensores do acaso como Capistrano de Abreu. O que muitos estudiosos afirmam é que, tirando o tom sereno, não há nenhuma sustentação sobre a intencionalidade portuguesa de realizar o desembarque no que seria o Brasil.
No trecho final da famosa carta, Caminha pede ao rei o fim do exílio na África de seu genro que havia sido condenado por ter cometido um assalto. Pero Vaz não chegou a exercer a sua função de feitor em Calicute, pois morreu ainda no ano de 1500 em combate, quando a frota de Pedro Álvares de Cabral encontrou resistência e hostilidade por parte da população local.
Bibliografia:
Dicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil – George Ermakoff , Casa Editorial, Rio de Janeiro 2012
Vainfas, Ronaldo (organizador) . Dicionário do Brasil colonial (1500-1808) / Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/carta-de-pero-vaz-de-caminha/