O temor em relação ao comunismo não era novidade no contexto do Golpe de 1964. Utilizada desde o início do século XX, sobretudo durante a Era Vargas, a propagação de ideias contrárias ao comunismo e seus adeptos foi uma das mais poderosas armas dos regimes totalitários de direita para impor seu poder absoluto sobre a população e obter seu apoio.
Entretanto, no ano de 1964 a perseguição aos comunistas ganhou nova cara, o Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Organização de extrema direita e de caráter paramilitar, o CCC nasceu na cidade de São Paulo no mesmo ano em que os militares tomaram o poder. Compostos por estudantes da Mackenzie e da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o CCC esteve presente no Golpe de 1964 e foi liderado por João Marcos Monteiro Flaquer, estudante de direito que, após formado, seguiu carreira na advocacia. O grupo foi composto também por policiais do DOPS e recebia treinamento do Exército Brasileiro.
Após alguns anos de interrupção de suas ações, o CCC voltou a atuar em 1968, pois julgava que o governo estava sendo ineficaz quanto ao combate ao comunismo em São Paulo. Considerada reduto da esquerda, a Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) foi um de seus primeiros alvos. Esse episódio ficou conhecido como "Guerra da Maria Antônia", que referia-se ao nome da rua em que ambas as instituições eram sediadas. A rua foi palco do confronto sangrento que levou a morte o estudante José Guimarães e só foi controlado após a chegada da Guarda Civil.
O próximo alvo do grupo foi o espetáculo Roda Viva, de autoria de Chico Buarque, em cartaz no Teatro Ruth Escobar. O local foi invadido por membros do CCC que espancaram atores da peça considerada uma obra de resistência ao regime militar. Após o ocorrido, a peça voltou a ser encenada em Porto Alegre, onde novamente foi atacada pelo CCC e deixou de ser realizada definitivamente.
Entre 1970 e 1975 o grupo esteve fora da cena pública, retomando suas atividades no contexto das agitações públicas causadas pela morte do jornalista da TV Cultura, Vladimir Herzog, após ter se apresentado ao DOI-CODI de São Paulo voluntariamente para prestar depoimento sobre suposta ligação com atividades criminosas. O grupo atacou jornais e diretórios acadêmicos em São Paulo e Belo Horizonte, entretanto, nenhum de seus integrantes chegou a ser preso pelos atentados cometidos.
No final da década de 1970, o grupo voltou-se para a luta contra os movimentos pela anistia e contra integrantes da Igreja Católica que atuavam em defesa dos mais pobres e com discursos considerados de esquerda por defenderem os direitos humanos. Um exemplo foi o sequestro do bispo de Nova Iguaçu, Adriano Hipólito. O bispo sofreu agressões e foi deixado nu, pintado de vermelho, em um matagal em Jacarepaguá. Este não foi o único caso de atentado do CCC contra a Igreja Católica. Antes disso, na manhã de 27 de maio de 1969, o corpo do padre Antônio Henrique, assessor de Dom Helder Câmara em Pernambuco, foi encontrado com sinais de tortura e execução. Posteriormente, o inquérito sobre seu assassinato foi arquivado.
Nos últimos anos do processo de abertura política, o CCC cessou progressivamente suas atividades, ainda que existam simpatizantes do grupo até os dias atuais.
Bibliografia:
G1. Comissão da Verdade diz que Padre Henrique foi vítima de crime político. G1, Pernambuco, 27 mai. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/05/comissao-da-verdade-diz-que-padre-henrique-foi-vitima-de-crime-politico.html>. Acesso em 31 out. 2017.
INGER, Helena. Quando o "diálogo" é a violência. Educação & Sociedade, Campinas, v. 22, n. 77, p. 281-287, dez. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302001000400015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 31 out. 2017.
VELOSO, Teresa. Comando de Caça aos Comunistas (CCC). CPDOC. FGV, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: < http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/comando-de-caca-aos-comunistas-ccc>. Acesso em: 31 out. 2017.
VILLELA, Gustavo. Dom Adriano Hypólito, bispo de Nova Iguaçu, é sequestrado e torturado em 76. O Globo, Rio de Janeiro, 22 set. 2016. Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/dom-adriano-hypolito-bispo-de-nova-iguacu-sequestrado-torturado-em-76-20160361>. Acesso em: 31 out. 2017.