Contracultura e cultura

Por Felipe Araújo
Categorias: Cultura, Idade Contemporânea
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Durante os anos 50, grande parte da juventude dos Estados Unidos começa a protestar contra os padrões sociais estabelecidos. Mas quais eram tais padrões? Para responder a esta pergunta, é necessário tocar na temática da Guerra Fria. Com o mundo dividido em duas potências em pé de guerra, URSS e EUA, houve um grande impulso na indústria, criado pelo medo mútuo entre os dois países. Profissionais de diversas áreas passavam o tempo todo preocupados e se preparando para um possível confronto. Além disso, a corrida armamentista gerou um enorme lucro para o setor.

Naquele período, mesmo o constante estado de paranoia, a qualidade de vida das pessoas melhorou com o advento da revolução tecnológica.  Com a modernização da agricultura, trabalhadores do campo migram para a cidade aumentando o processo de urbanização. A produtividade de produtos do campo chega ao seu auge e descobertas no campo da medicina aumentam a expectativa de vida. O que antes era considerado um luxo, como televisão, rádio, discos, produtos para higiene, entre outros, torna-se corriqueiro nos lares.

Dentro deste panorama, ocorre uma grande melhora na educação, iniciada pelo aumento da remuneração e diminuição do trabalho de menores. O ingresso em grandes universidades deixa de ser apenas para pessoas privilegiadas, fazendo com que os jovens tivessem mais tempo para se dedicar aos estudos. Porém, essa mesma juventude beneficiada é a que começa contestar a cultura de seus pais, como a sociedade de consumo e a associação da riqueza ao bem-estar do indivíduo.

Assim, os jovens criam uma identidade própria e isso gera um grande afastamento entre as duas gerações. Nos anos 50, surgem os famosos beatniks (geração beat): William Burroughs, Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Através de suas obras e estilo de vida, estes intelectuais transgressores defendiam valores extremamente libertários. Ao mesmo tempo, surge o rock’n’roll, influenciado pela música negra. Ídolos como Chuck Berry, Bo Diddley, Jerry Lee Lewis, Elvis Presley, Carl Perkins, Esquerita e Bunker Hill começam a influenciar a adolescência com suas músicas selvagens e dançantes.

Entretanto, foi nos anos 60 que o movimento de contracultura entrou para a história. O rock, antes mais atrelado à diversão, começa a ganhar letras de protesto na voz de astros como Bob Dylan, Joan Baez e Rolling Stones.  Surgem grupos de jovens organizados para protestar contra a Guerra Fria. É a época das greves, protestos, manifestações e da liberação do indivíduo na busca do “paradise now” (paraíso agora).

Ocorre o surgimento dos hippies, grupos de jovens que viviam em comunidades, usavam cabelos cumpridos, roupas psicodélicas e lutavam de forma pacífica pela harmonia entre os seres humanos. Seu principal lema era “paz e amor” e, entre outros ideais, eram a favor da utilização de drogas, revolução sexual e misticismo.

Em 1969, os hippies fazem acontecer o Woodstock, um festival ao ar livre que reuniu milhares de pessoas e apresentou ao mundo músicos como Ravi Shankar, Grateful Dead, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin, Joe Cocker, Sly & the Family Stone, The Who, Jefferson Airplane e Jimi Hendrix.

Um dos grandes ícones desta época foi o jornalista Hunter Thompson, que, ao mesmo tempo em que era adepto aos valores hippies, foi um dos maiores críticos do movimento. Em um artigo de sua autoria chamado “The Hippies”, Hunter afirma que em 1967, a mídia dos EUA voltou toda sua atenção a estes jovens para aumentar lucrar com sua imagem.

Segundo ele, “o verdadeiro ano hippie ocorreu em 1966, apesar da falta de publicidade, que em 1967 abriu caminho para uma avalanche em escala nacional na Look, Life, Newsweek, the Atlantic, the New York Times, the Saturday Evening Post, e até memso na Aspen Illustrated News (revistas americanas), que publicou um número especial sobre os hippies em 1967 (...)”.

No mesmo artigo, o jornalista ainda afirma: “Mas 1967 não foi um bom ano para ser um hippie. Foi um bom ano para homens de negócios e exibicionistas que se achavam hippies e davam entrevistas supercoloridas para beneficiar os meios de comunicação em massa, mas os hippies sérios, que não tinha nada a vender, perceberam que tinham pouco a ganhar e muito a perder tornando-se figuras públicas”.

Fontes:
AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. 3a. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
THOMPSON, Hunter S. Medo e delírio em Las Vegas: uma jornada selvagem ao coração do Sonho Americano. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2007.
http://es.wikipedia.org/wiki/Hippie
http://www.lovehaight.org/history/counterculture.html

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