A Crise do Apagão de 2001, apesar do seu nome, foi na verdade uma crise energética que assolou o país em 2001, e que se estendeu até março de 2002, quando ela enfim pode ser superada, através de um conjunto de medidas adotadas pelo poder público, em conjunto com a população.
A chamada “Crise do Apagão de 2001” ocorreu no início do século XX, entre 2001 e 2002. Na época, o Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso, que estava em seu segundo mandato. O país era demasiadamente dependente do afluxo de águas fornecido pelo regime de chuvas, a principal força que colocava em funcionamento as usinas hidroelétricas do país, responsáveis pelo fornecimento de energia que alimentava as casas, empresas, indústrias e comércios.
Mas, a mudança repentina das condições climáticas levou a uma diminuição de 70% do regime de chuvas que normalmente abastecia essas usinas que se encontravam espalhadas pelo país, levando a uma seca nos reservatórios. Esse fato acendeu um alerta e chamou a atenção das autoridades e dos especialistas na área, pois essa diminuição, caso não fosse revertida, poderia levar o Brasil a um apagão, ou seja, a uma interrupção abrupta do fornecimento de energia pelo país. Situação semelhante já tinha ocorrido a alguns anos atrás.
Veja o gráfico abaixo, tirado da Base de Dados Técnicos do ONS, a variação hidrográfica, concernente aos reservatórios das usinas, entre maio de 2001 a março de 2002:
Medidas extraordinárias se fizeram necessárias para contornar a situação e evitar que um apagão de fato ocorresse, como dito pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista na época. Para realizar esse objetivo, estipulou-se a meta de economizar-se ao máximo o consumo energético do país. Adotou-se, a política do “racionamento” de energia nas residências dos cidadãos, a partir do dia primeiro de junho do ano de 2001.
Essas políticas consistiam basicamente em campanhas televisivas de conscientização da população acerca da importância da diminuição de pelo menos 20% de seu consumo de energia, com base nos gastos do ano anterior, afim de postergar os efeitos da diminuição da produção energética.
Concomitantemente, todos os estabelecimentos que não eram considerados como extremamente essenciais como Hospitais, foram obrigados a diminuir o consumo de energia na luz, máquinas e aparelhos. Um terço da iluminação pública de todas as cidades fora cortada. O governo também proibiu a realização de eventos noturnos que exigissem o uso de energia. E avaliando que a população não diminuiria facilmente o consumo em suas casas, o poder público impôs a subida das tarifas de luz, e permitiu a penalização através de multas para quem gastasse mais energia do que o estipulado. Eram formas de coerção, que visaram a diminuição, em âmbito nacional, da energia gasta no país.
Podemos considerar então, que, aquilo que se convencionou chamar de “Crise do apagão”, foi na verdade, uma crise do modelo energético, que evidenciou a falta de planejamento das autoridades do país, frente a necessidade de se diversificar as fontes de fornecimento de energia. Ficaram claros os limites do modelo hidrelétrico, até então predominante no Brasil.
As medidas surtiram efeito e os gastos nacionais de fato diminuíram; o retorno do afluxo de chuvas no ano seguinte ajudou ao retorno à normalidade, elevando novamente o nível de abastecimento dos reservatórios. Mas, ocorreram perdas econômicas significativas; o país vinha superando uma crise de hiperinflação anterior, e o racionamento diminuiu ou mesmo paralisou a produção industrial, ocorreram prejuízos, repassados em efeito cadeia para o comércio, que precisou elevar os seus preços em compensação. Apesar da crise, estudos do IPEA apontaram que a crise não afetou as metas de superávit fiscal primário do ano de 2001.
Fontes:
Histórico de Dados Hidrográficos ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Disponível em: https://tableau.ons.org.br/t/ONS_Publico/views/DadosHidrolgicos-Volumes/HistricoDadosHidrolgicos-Volumetil?:embed=y&:display_count=n&:showAppBanner=false&:showVizHome=n&:origin=viz_share_link ( Acessado dia 15/11/2022).
IPEA. Impactos Fiscais da Crise de Energia Elétrica: 2001 e 2002. Diretoria de Estudos Macroeconômicos do IPEA, Rio de Janeiro, ISSN 1415-4765, N 816, p. 1 – 29, agosto de 2001. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/td_0816.pdf ( Acessado dia 15/11/2022).
BBC NEWS BRASIL: Apagão ou racionamento: 10 termos para entender a crise do setor elétrico. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57647243 (Acessado dia 15/11/2022).
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/crise-do-apagao-de-2001/