A crise mundial na produção de chips teve início em 2020. Ocorreu devido a uma diminuição da produção da indústria em escala global, causada pelas restrições da pandemia da covid-19. Desta forma, o setor de tecnologia foi visivelmente atingido, resultando na redução do abastecimento dos semicondutores. Os chips semicondutores são fundamentais e a sua escassez ocasionou problemas na manufatura de smartphones e computadores. Além disso, atingiu a área automobilística.
Conteúdo deste artigo
Quais são os líderes na produção de chips?
Os maiores produtores de chips em escala mundial são: Taiwan, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão. A questão principal na crise da produção dos semicondutores é centralizada em um problema geopolítico relacionado a Taiwan, na China.
Em que consiste esse problema?
A questão de Taiwan originou-se após o triunfo da Revolução Chinesa (1949), quando o governo de Chiang Kai-shek foi derrubado. Em seu lugar, instaurou-se a era Mao-Tsé Tung e seu governo socialista. Chiang Kai-shek tinha governado a China desde 1927, então fugiu com cerca de dois milhões de cidadãos chineses para Taiwan, que fica a 130 quilômetros da fatia continental chinesa, separada pelo estreito de Taiwan (ou estreito de Formosa). Logo foi estruturado naquele território um governo organizado e influenciado pelos Estados Unidos, dentro do contexto da disputa de poder entre países capitalistas e socialistas. Essa é a chave do problema entre Taiwan e a China, que envolve questões históricas relacionadas ao sentido de pertencimento. Embora isso ocorra, Taiwan é reconhecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) como parte da China.
A produção de chips em Taiwan
Há um problema em Taiwan ser uma área com questões geopolíticas mal resolvidas. A ilha é a grande produtora mundial de chips semicondutores e abastece tanto o mercado chinês como o norte-americano. Sabendo que China e Estados Unidos, desde o começo da pandemia, acirraram a sua disputa geopolítica no campo tecnológico, ficou evidente a influência dessa situação em Taiwan.
A guerra dos chips
Em 2020, a maior empresa taiwanesa de tecnologia de produção de semicondutores informou a construção de uma fábrica no Arizona (EUA). Porém, o governo dos EUA divulgou restrições normativas para aquela nova planta. E quais foram estas sanções? Foram regras para fabricantes que fazem uso da tecnologia norte-americana. Estas normas indicaram a solicitação de uma licença para empresas que quisessem fornecer produtos à China (responsável por 14% da receita de chips taiwaneses). Resumindo, dentro da guerra dos chips, essa foi uma medida dos EUA para refrear o crescimento tecnológico do gigante asiático a partir de sanções relacionadas ao fornecimento de chips produzidos nos EUA na direção do mercado chinês. Logo estas medidas impactaram na líder tecnológica de Taiwan, que precisou suspender o abastecimento de semicondutores direcionados à China.
A resposta chinesa
O total de importações da China em relação aos chips é de US$ 300 bilhões anuais. Com foco em tornar-se autossuficiente na produção de semicondutores, o governo apresentou ao final de 2020 um plano de investimento na casa dos US$ 1,4 trilhão no intuito de manter sua seguridade tecnológica e para manter a competitividade.
Ucrânia
O conflito iniciado em 2021 à partir da invasão russa ao território ucraniano também converge com a crise mundial da produção de chips. Isso ocorre devido à Ucrânia ser responsável pelo abastecimento de 70% da produção global de neon, que é um gás fundamental para a manufatura dos semicondutores. Nos Estados Unidos as empresas deste segmento dependem em cerca de 100% deste gás, que provém tanto da Ucrânia como da Rússia.
Assim, percebe-se que a crise mundial de chips semicondutores tem início com um descompasso na produção, causado pela pandemia da covid-19. Apesar disto ter sido um agravante real, o processo envolveu interesses que refletem a virada do poder geopolítico mundial, que apresentou uma mudança na direção do Oriente, visivelmente com a ascensão chinesa. Assim, países que vem demonstrando uma diminuição produtiva, como Estados Unidos e nações da Europa Ocidental, optaram por manobras no sentido de obstaculizar os produtores mais efetivos, estimulando questões de disputas territoriais e de pertencimento a partir de conflitos.
Fontes:
JABBOUR, Elias. China: o socialismo do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2021.
https://www.suno.com.br/noticias/entenda-crise-global-escassez-chips/
https://einvestidor.estadao.com.br/colunas/thiago-de-aragao/smic-china-estrategia-semicondutores/
https://exame.com/tecnologia/fabricantes-de-chips-russia-ucrania/
https://verdadeconcreta.wordpress.com/2021/03/18/eua-china-taiwan-e-a-crise-dos-chips/