Década perdida (1980-1990)

Por Eduardo José de Alvarenga

Licenciatura em História (IFG, 2022)

Categorias: Brasil Republicano, Economia
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É conhecida no Brasil como a “década perdida” (1980-1990), o período dos anos 1980, em que o Brasil mergulhou em uma profunda crise econômica, marcado pela hiperinflação, elevação da dívida pública e interrupção do crescimento do PIB. A crise se tornou marca e tema central dos governos que precederam a Ditadura Militar encerrada em 1985.

No conjunto dos anos da década de 80, o Brasil vivenciou uma enorme crise econômica, e que foi solucionada apenas em 1994, com a implementação do chamado Plano Real – concebido pelos economistas da equipe de Fernando Henrique Cardoso: Pérsio Arida e André Lara Rezende, durante o governo de Itamar Franco (1992 – 1994).

Desde a criação do Plano Real, e a instituição do regime de meta de inflação em 1999, o Brasil vem lutando para manter contida a inflação, ao custo de uma política de juros altos que vem se mantendo nos governos pós 1999, e que impõem restrições ao desenvolvimento econômico do país.

Origens da crise

A inflação começou antes de 1980, na Ditadura Militar. O primeiro choque do petróleo de 1973, encareceu o preço do barril do petróleo no mundo inteiro, e como o Brasil dependia desse petróleo, o aumento repassou para os preços da economia que aumentaram. A dívida externa do país crescia a níveis altíssimos (100 bilhões em 1984) sendo sua maior parte em dólares por ser uma dívida externa – como resultado do endividamento ocorrido durante o período ditatorial, para custear o chamado “Milagre Econômico”.

Em 1979, no governo do presidente general João Baptista Figueiredo, ocorreu mais um choque internacional do petróleo que aprofundou o problema, que vinha sendo segurado pelo governo; em 1981 o PIB começou a cair e a inflação cresceu.

Para piorar, os principais credores do Brasil, estavam elevando suas taxas de juros, para solucionar seus próprios problemas internos. Somou-se a isso uma restrição da oferta do crédito para a América Latina inteira, por conta da crise. O resultado foi a piora do endividamento do país.

O crédito era usado para financiar o crescimento do Brasil e desses países. A produção nacional retraiu, e o PIB diminuiu de 7% para 2%, acompanhado pela piora da desigualdade social. A saída subida dos investimentos levou à mais depreciações na taxa de câmbio – ou seja, a desvalorização da moeda, que perdendo seu poder de compra, encareceu os preços na economia, levando a inflação para a casa dos 100% e 200% ao ano.

Para custear isso, o governo tentou recorrer a elevação de impostos na exportação e formar uma dívida interna, que o forçou a elevar sua própria taxa de juros em compensação.

Após o fim da ditadura, iniciou-se em 1985 uma redemocratização gradual, acompanhada pela eleição indireta de um civil para a Presidência da República: Tancredo Neves, e seu vice José Sarney. Tancredo faleceu e Sarney assumiu a presidência, para um mandato que se encerraria em 1990. O maior desafio de seu governo foi a contenção da grave crise econômica, particularmente o endividamento e a inflação.

Para isso, criou em 1986, o chamado Plano Cruzado, baseado na criação de uma nova moeda, o Cruzado, concomitantemente ao congelamento de salários e preços, na expectativa de que esses não pudessem ser aumentados, contendo a inflação (que se define primordialmente pela elevação dos preços das mercadorias).

O plano não solucionou o problema, e foi substituído pelos planos Cruzado 2, Plano Bresser (1987) e Plano Verão. Nenhum deles teve êxito. O congelamento de preços, também foi ineficaz, e levou a outros problemas, como o desabastecimento de prateleiras de supermercados.

No governo de Fernando Collor de Mello, Zélia Maria Cardoso de Mello, na chefia do Ministério da Fazenda, elaboraram um plano, que consistia em bloquear de forma temporária o dinheiro guardado pelas pessoas em suas contas bancárias. O plano consistia em bloquear valores superiores a 50 mil cruzados novos, que equivaliam a 1.200 dólares.

Esperava-se com isso, frear a movimentação do dinheiro, o que levaria á uma diminuição do consumo e consequentemente, da subida dos preços – diminuindo a inflação. Concomitantemente, flexibilizou-se o processo de importações, visando-se a diminuição dos preços. Estes, inicialmente tiveram uma queda, contudo, a inflação voltou a subir.

Para atacar a dívida externa, ocorreram privatizações, gerando uma receita utilizada para sanar parte dos compromissos externos do país. Collor foi destituído do seu cargo, via processo de impeachment, antes de completar o seu mandato, sendo substituído, pelo seu vice Itamar Franco.

Itamar governou o Brasil até 1994, e foi a sua equipe econômica, liderada por Fernando Henrique Cardoso, quem conseguiu dar os primeiros passos rumo ao fim da hiperinflação. Criou-se uma nova moeda: o real – que chegou a obter por algum tempo uma paridade com o dólar, contendo a inflação sem congelamentos ou confiscos.

O sucesso do plano impulsionou a eleição de Fernando Henrique para a presidência em 1995.

Leia também:

Fontes:

FICO, Carlos. RUMO A DEMOCRACIA. In: História do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2021. p. 125 – 141.

PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A GRANDE CRISE. In: Economia brasileira: uma introdução crítica. São Paulo: Editora 34, 1998. p. 162 – 169.

DUVOISIN, Lauro Allan Almeida. Os intelectuais orgânicos do capital financeiro internacional: um estudo da trajetória dos “pais” do Plano Real no Brasil. 2020. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Porto Alegre, 2020.

SOUZA, Gonçalves, Everton P. Da dívida a beira da hiperinflação: a crise brasileira dos anos 80. 1991. Tese (Mestrado) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, FGV, São Paulo, 1991.

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