A chamada França Equinocial (1612-1615) se caracterizou pela tentativa de instauração de uma colônia francesa na parte norte dos territórios portugueses na América. Neste período fundaram o forte de São Luís, o qual originou São Luís, capital do Maranhão. Esta foi a segunda tentativa francesa de estabelecer uma colonização em território luso. A primeira delas (França Antártica [1555-1565]) ocorreu na Baía da Guanabara (Rio de Janeiro). Os principais objetivos dos franceses eram fortalecer as relações comerciais com os indígenas e conquistar territórios no Novo Mundo.
No contexto em que os franceses se apossam daquela região, esta não passava de uma possessão registrada nos mapas luso-espanhóis e fundamentado no Tratado de Tordesilhas (1494). A maioria das Capitanias Hereditárias (1534) haviam fracassado pouco tempo depois de seus estabelecimentos. O Governo Geral, instaurado nos idos de 1549 não dava conta da administração daquelas regiões. O norte era tido como verdadeiro sertão (lugar longínquo), onde diferentes nações europeias e indígenas empreendiam trocas comerciais em larga escala.
Entre fins do século XVI e início do século XVII, holandeses, franceses e ingleses estabeleceram feitorias e dali trocavam manufaturas trazidas da Europa (machados, facões, contas, tesouras, espelhos, etc.) com produtos naturais extraídos da floresta (pau-brasil, papagaios, saguis, peixes, frutos, sementes oleaginosas, peles e penas de animais) e até cultivados pelos indígenas (algodão, tabaco, urucum, etc.). A região que compreende atualmente os estados do Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte era tida como grande problema para a administração portuguesa, na época, com capital em Salvador (Bahia). Somava-se a estas questões, o enfraquecimento político de Portugal como resultado de sua anexação ao trono espanhol no contexto da União Ibérica (1580-1640).
Dadas as dificuldades de acesso luso e facilidade de comércio com os indígenas, os franceses empreenderam o estabelecimento colonial e a posse dos territórios indígenas no Maranhão. Com o patrocínio da Coroa Francesa, Daniel de La Touche e Charles des Vaux fundaram a França Equinocial. As trocas voluntárias que já se processavam a mais de um século com os nativos, foi substituída pelo domínio da terra e da mão de obra indígena pelos franceses. Um índio principal dos Tupinambás chamado de Momboréuaçu chegou a conclusão de que, semelhante aos portugueses, os franceses estavam começando a se fixar na terra, desrespeitar os costumes de seu povo e ainda por cima querendo-lhes escravizar. Os resultados desse empreendimento arriscado foi o despontar de grandes conflitos de caráter local com os grupos indígenas que não aceitavam tais medidas.
Em 1615, uma expedição luso-espanhola alcançou São Luís e empreendeu o processo de reconquista dos territórios. Liderados por Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura, os portugueses expulsaram os franceses e tomaram o Forte de São Luís. Aliados aos Tupinambás, empreenderam o processo de efetivação de territórios a oeste e fundaram, em 1616, o Forte do Presépio que deu origem à cidade de Belém, capital do Pará. Criaram o Estado do Maranhão, com administração independente do Estado do Brasil e estabeleceram uma relação direta com a metrópole que teve fim apenas com o processo de Independência do Brasil (1822). Assim, a tentativa francesa de estabelecer aquela colônia concorreu para a criação do Estado do Maranhão, uma outra colônia portuguesa na América, com administração e características próprias que a diferenciaram, inclusive em termos históricos, da outra colônia portuguesa chamada Estado do Brasil.
Referências:
FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. estudos avançados, v. 27, n. 79, p. 277-280, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142013000300020&script=sci_arttext&tlng=es; Acesso em: 25 out. 2017.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira – Tomo I: A época colonial – do descobrimento à expansão territorial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
MAESTRI, Mário. O Brasil francês: a colonização revisada. Revista Urutágua, p. 1-2, 2007. Disponível em: https://scholar.google.com/scholar?start=30&q=Fran%C3%A7a+Equinocial&hl=pt-BR&as_sdt=0,5&lookup=0; Acesso em: 26 out. 2017.
MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. Tip. São José, 1962.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/franca-equinocial/