O termo genocídio congolês costuma se referir aos acontecimentos neste país nas décadas finais do século XIX e na década inicial do século XX, quando o rei Leopoldo II de Bélgica assumiu o Congo como uma propriedade pessoal, transformando o país em uma série de plantações mantidas com o trabalho escravo do povo nativo.
Anteriormente, Leopoldo II tentara assumir uma iniciativa colonial na África ou Ásia por meio da aquisição de províncias na Argentina, Bornéu, Filipinas, China, Vietnã e Japão, mas nenhuma destas negociações haviam prosperado. Em 1876, ocorreria na capital belga, Bruxelas, uma conferência internacional na qual foi proposta o que seria uma expedição científica e humanitária na desconhecida região da África Central. Tratava-se, de fato, das bases de uma apropriação territorial organizada por Leopoldo II.
Já interessado na expansão do império, Leopoldo II focou-se em conseguir a posse da rica região do Congo, que era cerca de 70 vezes maior que a Bélgica e possuía abundantes fontes de borracha, diamantes, ouro e marfim. Uma vez que o governo da Bélgica não quis se envolver na questão, o próprio Leopoldo II, como monarca constitucional, resolveu assumir o Congo como sua própria propriedade, a ser administrada não como uma colônia, mas como um bem pessoal da Coroa.
O monarca atingiria seu objetivo aproximadamente dez anos depois, durante a Conferência de Berlim. Em meio à partilha europeia do continente africano, Leopoldo II conseguiu o controle de cerca de 2 milhões de km2 no coração da África. Como parte das negociações, o rei se comprometeu a promover o livre comércio na região, isentando produtos importados de impostos, além de lutar contra a escravidão.
Menos de dez anos depois, porém, todos os compromissos estabelecidos em Berlim já haviam sido desfeitos. Após tomar posse do Congo, Leopoldo II confiscaria as terras de aldeias inteiras, tornando seus habitantes escravos, e aumentaria substancialmente a carga de impostos. Como resultado, em breve o rei seria o dono de toda a borracha, diamantes, ouro e marfim do Congo, cuja produção era garantida pela temida tropa de mercenários conhecida como Força Pública.
Rapidamente, o país que era oficialmente conhecido como Estado Livre do Congo se tornaria infame pelo uso de formas de trabalho brutais. Independentemente se o devoto Leopoldo II tinha ou não a intenção de converter a população nativa ao catolicismo, como defendem alguns historiadores, o fato é que assassinatos, amputações, açoitamentos, estupros e até mesmo esquartejamentos tornaram-se ocorrências diárias no Congo ao final do século XIX. Mulheres e crianças costumavam ser sequestradas para garantir que cotas de produção fossem cumpridas por líderes tribais. Atualmente, calcula-se que cerca de 10 milhões de pessoas morreram como resultado do domínio pessoal de Leopoldo II no Congo.
A verdade sobre a situação demorou à aparecer na imprensa europeia devido à limitação da presença de europeus no Congo, mas paulatinamente relatos de missionários, interventores reais e, de forma particularmente notável, o explosivo livro de autoria de Joseph Conrad – O Coração das Trevas – tornaram público os eventos. À medida que os protestos aumentavam, uma investigação oficial do governo belga foi aberta, resultando no fim da posse pessoal do Congo por Leopoldo II. Entretanto, o trabalho forçado continuaria a ocorrer em algumas regiões no Congo até a independência do país, ocorrida em 1960.
Até hoje, a Bélgica jamais pediu desculpas oficiais ao Congo pelas atrocidades cometidas durante a parte final do reinado de Leopoldo II, mesmo sendo pressionada pela ONU neste sentido.
Bibliografia:
https://www.geledes.org.br/quando-voce-mata-dez-milhoes-de-africanos-voce-nao-e-chamado-de-hitler/