A expressão Genocídio de Ruanda se refere a uma série de eventos ocorridos em 1994 que levaram à morte de cerca de 800.000 pessoas em Ruanda, país localizado no centro do continente africano.
Dominado no período colonial por Alemanha e Bélgica, o território de Ruanda apenas ganharia sua independência após o fim da Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o processo de construção nacional possibilitaria rivalidade cada vez maior entre os tutsis – antiga aristocracia local que se antes se aliara aos belgas para exercer maior poder, que correspondia a aproximadamente 10% da população – e os hutus – camponeses explorados pelos tutsis e pelos belgas, que correspondiam a aproximadamente 90% da população.
Em 1958, o rei tutsi que tentara aprovar reformas que amenizassem a situação dos hutus, Mutara III, faleceu em meio a fortes rumores de assassinato, causando uma sangrenta revolta por parte dos hutus que levaria, logo no ano seguinte, à intervenção da ONU no país. A proclamação da República que se seguiu permitiu um turbulento governo pelas duas décadas seguintes, até que, em 1990, os interesses do governo francês na região levariam a uma aliança com a ditadura liderada pelo hutu Juvenal Habyarimana.
Percebendo nisso uma ameaça, os tutsis formaram a Frente Patriótica Ruandesa (FPR), que passou a atacar uma série de alvos ao norte do país e ameaçava desencadear uma aberta guerra civil. Por meio da criação de sua própria milícia, chamada Interahamwe (“Juntos Atacaremos”), o governo de Habyarimana aumentou ainda mais as tensões, ao mesmo tempo em que se propagava no meio intelectual ideias a favor da “pureza hutu”, rapidamente disseminadas em emissoras de rádio e televisão. Jornais extremistas também clamavam abertamente pela extinção dos tutsis. Ao mesmo tempo em que não os dissuadia, porém, Habyarimana se mostrava favorável a adotar medidas para a reconciliação com os tutsis para conseguir ajuda financeira da França. Isso desagradou bastante uma parte mais extremista da população hutu.
Em 6 de abril de 1994, Juvenal Habyarimana morreu, juntamente com o presidente do país vizinho de Burundi, Cyprien Ntaryamira, quando o avião que os transportava explodiu enquanto se aproximava da capital de Ruanda, Kigali. O acidente até hoje não foi explicado. Quase que imediatamente, a FPR e o governo passaram a se acusar mutuamente pela morte, ao mesmo tempo em que a milícia Interahamwe tomava as ruas da capital, assassinando todas as lideranças políticas da oposição e suas famílias. Embora, então, tenha ocorrido uma organização de Estado para facilitar a chacina, a massa da população hutu também colaborou, espontaneamente ou forçada pela parcela favorável à “pureza hutu”.
Emissoras de rádio e televisão estimulavam a população a “eliminar as baratas” (os tutsis), lendo listas de nomes de pessoas a serem mortas, incluindo não apenas adultos, mas também crianças, idosos, e até mesmo bebês. Eles seriam assassinados majoritariamente com golpes brutais de machetes, facões, lanças ou foices, embora armas de fogo também tenham sido utilizadas pela população em geral. Muitas mulheres tutsis também foram estupradas. Enquanto isso, a FPR tomava território do governo, supostamente matando milhares de hutus enquanto avançavam rumo à Kigali. Em 17 de julho de 1994, a capital caiu, pondo fim oficial ao genocídio. Apesar da presença de tropas militares internacionais no país, nenhuma intervenção tinha sido realizada até o dia 22 de junho.
O governo provisório que se seguiu dividiu o poder entre um hutu, Pasteur Bizimungu, e um tutsi, Paul Kagame, em uma atitude de conciliação. Um tribunal da ONU foi instalado para averiguar as responsabilidades pelo genocídio, além de um tribunal comunitário ruandês que julgou mais de um milhão de pessoas. Em 2003, uma nova Constituição foi aprovada, proibindo qualquer tipo de identificação étnica.
Bibliografia:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/04/140407_ruanda_genocidio_ms
https://www.dw.com/pt-002/o-genoc%C3%ADdio-no-ruanda/g-19393472
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Memoria/Ha-25-anos-o-genocidio-no-Ruanda/51/43800
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/genocidio-de-ruanda/