Grande Medo

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

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A expressão "Grande Medo" se refere a um período ainda no início da Revolução Francesa, quando os camponeses se voltaram contra a alta nobreza, chegando a invadir Versalhes – ameaçando a segurança da corte, do rei Luís XVI (1754-1793) e, principalmente, da impopular rainha de origem austríaca Maria Antonieta (1755-1793).

Para compreender melhor este movimento, é necessário retornar um pouco e observar o início da crise política e econômica em França. Um reino altamente hierárquico e, logo, socialmente desigual, a França era sustentada pela exploração econômica do chamado terceiro estado, o único que pagava impostos. Composto por todos aqueles que não eram membros da Igreja (primeiro estado, o clero) ou nobres (segundo estado), aquele estamento era formado pelos mais diversos setores, incluindo a alta burguesia, comerciantes, artesãos e os camponeses. Estes últimos tinham nada menos do que 80% de sua renda dedicada ao pagamento de impostos.

Neste contexto, o forte desgaste financeiro proveniente do envolvimento de França na Guerra de Independência Americana (1776-1781), somado com um péssimo desempenho da agricultura na década de 1780, trouxe não apenas fome generalizada entre a população comum, mas também déficit financeiro. A falta de acordo nos Estados Gerais de 1789 em como resolver a crise acabou levando o terceiro estado a se retirar da reunião, ir para uma sala separada e proclamar a Assembleia Nacional Constituinte. Não sendo capaz de dissolvê-la, Luís XVI ordenou depois de algumas semanas que os outros dois estados fossem se unir ao terceiro, mas secretamente planejaria convocar o exército para acabar com a reunião.

Rei Luís XVI da França. Pintura de Antoine-François Callet, 1789.

Quando tal notícia se espalhou por Paris, a população se revoltou e tomou a antiga fortaleza do governo absolutista, a Bastilha, em 14 de julho. Quando o fato tornou-se conhecido pelo reino afora, os camponeses também se revoltaram, e durante as duas semanas seguintes atacariam propriedades da aristocracia, saqueando-as e incendiando-as. Corriam boatos que os nobres monopolizavam a comida disponível, ou mesmo destruíam as colheitas, o que só alimentou ainda mais a violência. Em quatro de agosto, numa tentativa de acalmar o campesinato, foi aprovado o fim dos antigos direitos feudais devidos à nobreza; no dia 26, foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estabelecia a igualdade entre todos os franceses. Ainda assim, no dia cinco de outubro, uma multidão marcharia até Versalhes, tentaria atacar a rainha e exigiria um compromisso por parte do rei para garantir o pão; mais tarde, foi decidido que toda a família real seria forçosamente levada até Paris.

Depois disso, a revolta progressivamente seria extinta. Dois anos depois, viria à luz a primeira constituição de França, que estabelecia a monarquia constitucional. No mesmo ano, porém, a exemplo de várias outros aristocratas desde o início da Revolução, a família real tentaria fugir; no ano seguinte, seriam presos sob a acusação de conspiração. Luís XVI e Maria Antonieta seriam executados na guilhotina em 1793, num dos primeiros atos daquele que seria conhecido como o período de Terror do governo jacobino.

Bibliografia:

FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Rio de Janeiro: Record, 2012. pp. 324-329.

LIMA, Lizânias de Souza; PEDRO, Antonio. “Da revolução iluminista à Revolução Francesa”. In: História da civilização ocidental. São Paulo: FTD, 2005. pp. 251-256.

SERIACOPI, Gislane Campos Azevedo; SERIACOPI, Reinaldo. “A Revolução Francesa”. In: História: volume único. São Paulo: Ática, 2005. pp. 252-257.

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