Entre os meses de maio e junho de 2018, os caminhoneiros fizeram greve durante onze dias devido à insatisfação com o aumento do valor do combustível, com a cobrança de pedágios e com a redução do valor do frete. Essa greve teve alto impacto no cotidiano da população brasileira, pois, segundo dados da Confederação Nacional de Transporte (CNT), 60% do transporte de cargas e 90% do transporte de passageiros são realizados por rodovias. Além disso, os fechamentos de rodovias foram feitos em áreas estratégicas como refinarias da Petrobras e o Porto de Santos, dificultando ainda mais o fluxo de mercadorias.
A greve gerou desabastecimento de produtos nos mercados, principalmente, de alimentos perecíveis como frutas e legumes. Esse desabastecimento influenciou o índice inflacionário do mês de maio de 2018 que registrou aumento de 0,40%, o dobro em relação ao mês de maio do ano anterior. O aumento da inflação incidiu, preponderantemente, sobre os alimentos perecíveis e a energia elétrica e afetou, sobretudo, as classes mais pauperizadas da população que gastam maior parcela do salário com gastos nesses produtos.
Alguns fatores contribuíram para o cenário de insatisfação dos caminhoneiros que ocasionaram a greve. Devido à recessão econômica pela qual passava o país, houve redução no volume de cargas, especialmente, da indústria e do comércio. Os caminhões passaram a circular com cerca de 60% da capacidade total e ainda 39% dos percursos eram realizados por caminhões vazios, segundo pesquisa de 2014 feita pela Empresa de Planejamento e Logística. Ademais, a frota de caminhões circulando pelo país havia aumentado por conta de financiamentos e incentivos para a compra desses transportes, causando a redução do valor do frete por haver muita oferta de caminhões em relação à demanda.
Esses fatores somaram-se aos constantes aumentos do combustível dos caminhões, o óleo diesel, aumentando os gastos dos caminhoneiros e, consequentemente, reduzindo o valor arrecadado com as viagens. O controle do valor do óleo diesel estava entre as principais reivindicações dos caminhoneiros, e atendendo a essa exigência foi criada a Medida Provisória 838 (de 30 de maio de 2018), convertida na Lei nº 13.723 (de 04 de outubro de 2018), que dispuseram sobre a subvenção econômica do óleo diesel de uso rodoviário no país. Inicialmente a subvenção foi estabelecida em R$ 0,07 por litro até o dia 7 de junho de 2018, sendo ampliada para R$ 0,30 por litro entre 8 de junho e 31 de dezembro de 2018. A subvenção ao óleo diesel e a redução de impostos federais como PIS e Cofins foram as principais medidas implementadas pelo governo presidencial de Michel Temer para refrear a greve dos caminhoneiros.
Após a garantia de subvenção do óleo diesel, o estabelecimento de um piso para o valor do frete e a redução de impostos, os caminhoneiros terminaram a greve ocorrida entre 21 de maio e 1º de junho de 2018. A alta do dólar, em setembro de 2018, provocou novo aumento no valor do óleo diesel, e novamente os caminhoneiros ameaçaram fazer paralisações. Além do acréscimo ao valor do combustível, os caminhoneiros denunciavam também que o valor estabelecido para o piso do frete não estava sendo cumprido. Outras ameaças de paralisações dos caminhoneiros ocorreram em 2019, no entanto, as lideranças da categoria declinaram da proposta de nova greve após conversações com o governo de Jair Bolsonaro, que prometeu cumprir com a fiscalização da cobrança dos fretes.
Referências:
“Boletim Trimestral de Preços e Volumes de Combustíveis”. Disponível em: http://www.anp.gov.br/arquivos/publicacoes/boletins-anp/btpvc/boletim-trimestral-1.pdf. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 10h e 13m.
“Entenda a crise dos caminhoneiros”. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/09/entenda-a-crise-dos-caminhoneiros.shtml. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 8h e 41m.
“Inflação por faixa de renda - maio de 2018”. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2018/06/11/inflacao-por-faixa-de-renda-maio-de-2018/. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 9h e 17m.
“Lei nº 13.723, de 4 de outubro de 2018”. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/30228575/publicacao/30228827. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 10h e 21m.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/greve-dos-caminhoneiros-2018/