Guarda Negra da Redentora

Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)

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O século XIX foi marcado no mundo como um período de debates intensos sobre a questão da escravidão. O mudo ocidental, liderado pela Inglaterra, via as relações de trabalho se transformarem no contexto da revolução industrial: fábricas e máquinas exigiam novas posturas. O aprofundamento do capitalismo industrial impôs mudanças pelo mundo. Não à toa a escravidão passou a ser extinta em diversos países: Reino Unido (1833), França (1848), Paraguai e Uruguai (1842), Colômbia e Equador (1851), Argentina (1853), Venezuela, Peru e Portugal (1854), Estados Unidos da América (1863), Cuba (1886) e finalmente Brasil em 1888. Liderada pelo Reino Unido, a pressão para o fim do tráfico atlântico na América foi constante neste tempo. Com vistas a fomentar o capitalismo industrial, diversas foram as medidas inglesas para o fim da escravidão no mundo. O Brasil foi a última nação a abolir a escravidão negra e isso foi significativo para as relações raciais no país desde então e se mostra uma questão latente e importante para se pensar na estrutura do país até os dias atuais.

Defensores do abolicionismo já entravam no debate público na segunda metade do século XX. Nomes como André Rebouças, Luiz Gama, Francisco José do Nascimento e José do Patrocínio figuram como os principais abolicionistas no Brasil. É preciso destacar que a abolição não foi um presente dado da monarquia para o povo e envolveu muita luta social a partir de diversas formas de resistência: seja na formação de quilombos urbanos, na proibição do comércio de escravos nos portos ou na imprensa periódica, diversas foram as frentes de luta. Assim sendo é preciso destacar também que tanto grupos republicanos como grupos monarquistas defenderam o fim da escravidão, de diferentes formas. Dentre os grupos monarquistas um deles se destaca: o responsável pela formação da Guarda Negra da Redentora.

A Guarda Negra da Redentora foi organização que tinha como objetivo primordial proteger a monarquia brasileira após a abolição da escravatura em 13 de maio de 1888. O grupo era formado por libertos das camadas pobres da sociedade e que se viram em situação de vulnerabilidade: não havia seguranças e certezas quanto ao fim da escravidão e o medo da reescravização era uma realidade. Os membros da guarda atuavam em defesa da monarquia e para a proteção da princesa Isabel, e se opunham de forma contundente aos republicanos, principalmente aos paulistas. O final do século XX foi o tempo da ascensão dos republicanos paulistas.

José do Patrocínio, idealizador da Guarda Negra da Redentora.

Acreditando na necessidade de garantir o que havia sido conquistado há pouco, a guarda negra não acreditou no republicanismo. Em setembro de 1888, meses depois da assinatura da Lei Áurea pela princesa regente, José do Patrocínio publicou em seu jornal Cidade do Rio inicialmente um convite/chamado aos homens de cor e depois deu a notícia da criação de uma associação em agradecimento pela assinatura da lei. A criação da Guarda Negra da Redentora é um dos muitos exemplos da organização política de homens e mulheres negros ao longo da história do Brasil. José do Patrocínio foi uma importante liderança da luta abolicionista: além de idealizar a guarda, sua atuação no jornalismo foi fundamental para a circulação de suas ideias.

A Guarda foi apenas uma das formas de organização e resistência política da população negra do país. Nem todos os abolicionistas negros concordavam com a ação da guarda: André Rebouças, por exemplo, era bastante crítico à formação do grupo, assim como Ruy Barbosa. O que se pode perceber é que a luta pela abolição era plural e se expressava de diversas formas.

Com a proclamação da república no Brasil e a saída da família real do país não houve mais a necessidade da manutenção de uma agremiação em defesa da monarquia e, assim, a Guarda Negra da Redentora foi dissolvida. Por mais que os primeiros anos de república no Brasil não tenham sido marcados pela estabilidade, os defensores do Império foram ficando cada vez mais periféricos no debate político tirando a guarda de cena.

Referências:

FAUSTO, Bóris. História do Brasil. SP: EdUSP, 1995.

KRAAY, Hendrik. Reis negros, cabanos, e a Guarda Negra: Reflexões sobre o monarquismo popular no Brasil oitocentista. Varia hist. Belo Horizonte, v. 35, n. 67, p. 141-175, Apr. 2019. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752019000100141&lng=en&nrm=iso>. access on  02  Dec.  2020.  http://dx.doi.org/10.1590/0104-87752019000100006.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Arquivado em: Brasil Imperial
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