Guerra de Cabo Frio

Por Fernando Roque Fernandes

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

Categorias: Brasil Colônia
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A chamada Guerra de Cabo Frio, ocorrida em 1575, faz parte de inúmeros conflitos que concorreram para a morte e escravização de milhares de indígenas no período colonial. Os principais ataques foram empreendidos contra os índios Tamoios que com os franceses estabeleceram alianças naquela região. As desavenças entre os Tamoios e os portugueses teriam se iniciado logo após o estabelecimento das Capitanias Hereditárias quando as relações começaram a se desgastar como resultado da colonização. Cabo Frio era importante devido suas terras fartas de pau-brasil chamando a atenção pelo porto que facilitava a chegada de navios para o embarque de produtos como madeira, corantes e gêneros do reino animal, como peixes, tartarugas, óleo de baleias, etc.

John Hemmimg observou que trinta anos após os esforços de colonização do litoral brasileiro, as tribos habitantes daquelas regiões, muitas vezes, repeliram a invasão portuguesa. Inicialmente, nos primeiros trinta anos do “descobrimento”, os indígenas permitiram que os europeus se estabelecessem em suas terras chegando, inclusive, a ajudar a construir os primeiros estabelecimentos. As mercadorias trazidas pelos europeus, no que se incluíam armas, foram verdadeiras atrações para aqueles indígenas que se viram tentados a hospitalidade. Assim, inicialmente, os verdadeiros interesses e perigos que os portugueses representavam não parecem ter sido tomados como de grande alarde para aqueles indígenas. No entanto, a longo prazo, quando os reais interesses da colonização vieram à tona e as provocações dos colonos se tornaram intoleráveis, cada grupo étnico respondeu a seu modo através de diferentes estratégias, inclusive violência.

A Confederação dos Tamoios controlava a maior parte do Vale da Paraíba e o litoral sudoeste, desde Cabo Frio, passando pelo Rio de Janeiro até o planalto de Piratininga. As desavenças entre os Tamoios e os portugueses da Feitoria de Cabo Frio criaram rivalidades que levaram os Tamoios a se aliarem aos franceses por volta de 1540. Os portugueses, estabelecidos em São Paulo, se aliaram aos Tupiniquins, que eram rivais dos Tamoios. A partir daí, conforme aponta Elísio Gomes, os Tamoios atacavam as embarcações portuguesas que passavam pela região e, muitas vezes, em suas grandes canoas, atravessavam o Mar de Cabo Frio em direção à Baía da Guanabara para atacar os lusos que ali dominavam territórios.

Em 1575, os Tamoios atacaram alguns engenhos próximos do Rio de Janeiro. O Governador Salema articulou um destacamento de 400 homens, empreendendo marcha acompanhados de 700 dos seus aliados indígenas Temiminós em direção a Cabo Frio. Naquela ocasião, muitos dos franceses desertaram, deixando os Tamoios à própria sorte. Após sangrentos embates, os Tamoios foram vencidos. Salema chegou a matar mais de 2 mil índios e escravizar mais de 4 mil deles. Outros números apontam para uma quantidade incontável de mortos e cifras de 8 a 10 mil Tamoios escravizados. Salema dividiu as famílias indígenas, enviando uns para São Vicente e outros para o Rio de Janeiro. No final do século XVI, um português chamado Jácome Monteiro observou que os Tamoios de Cabo Frio tinham sido de tal modo dizimados que já não havia notícias deles. Pouco tempo antes, uma última investida dos portugueses resultou na morte de 10 mil Tamoios, levando outros 20 mil à escravidão. Eis os processos que conformaram as bases do empreendimento colonial português e a origem de sua mão de obra mais barata e preciosa, tendo como exemplo, a Guerra de Cabo Frio.

Referências:

HEMMING, John. O Ouro Vermelho: a conquista dos índios brasileiros. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007, p. 187-213.

NASCIMENTO, Rebeca. Cabo Frio 400 anos: a controvérsia do descobrimento e o passado indígena. G1, 10 nov. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2015/11/cabo-frio-400-anos-controversia-do-descobrimento-e-o-passado-indigena.html; Acesso em: 02 dez. 2017.

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