Iconoclastia

Por Fernanda Paixão Pissurno

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

Categorias: Idade Média
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Em referência a indivíduos ou eventos, o termo iconoclasta se refere ao desrespeito ou destruição de tradições, crenças, imagens ou símbolos, normalmente ligados a um contexto religioso. A palavra iconoclastia vem da língua grega e tem como tradução literal “quebrador de imagens”. Do ponto de vista histórico, porém, iconoclastia costuma referir-se mais especificamente ao movimento de origem bizantina iniciado no século V que, em última instância, dividiria a cristandade entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa.

A partir do século V, passaria a se disseminar uma prática entre os cristãos orientais de beijar imagens de santos, acendendo também incenso ou velas junto a elas. O pensamento teológico que mais tarde justificaria a prática defenderia que, ao beijar a imagem, se beijaria também o santo representado. A partir de tal prática, o hábito se espalharia pelo Império Bizantino. A continuação do poder político da metade oriental do Império Romano, ele enfrentava no início do século VIII a ameaça do islamismo em suas fronteiras. Para os governantes bizantinos, mais do que apenas uma prática popular, o beijo nas imagens dos santos se equivalia à idolatria e, logo, poderia incitar intervenção militar por parte dos exércitos islâmicos.

Moeda de época representando o imperador Leão III. Foto: Classical Numismatic Group, Inc. / cngcoins.com / via Wikimedia Commons / CC-BY-SA 3.0

O imperador bizantino da época, Leão III, era profundamente religioso, e rapidamente ficou convencido do erro desse tipo de veneração. Embora não seja claro se o contato com muçulmanos durante a fase inicial de sua vida, ocorrida na Síria, teve alguma influência sobre seus pensamentos a respeito, mas as opiniões de bispos da Ásia Menor certamente foram decisivas para que, em 726, ele começasse a criticar abertamente a prática. Embora os bispos ortodoxos o tenham apoiado, o papa Gregório II condenou as falas do imperador Leão III, que já iniciara sua luta contra os fabricantes das imagens santas. Ele também ameaçaria Gregório II com deposição.

No Concílio Romano, ocorrido em 731, o papa falou diretamente contra o que era entendido como profanação de imagens santas, declarando que a punição contra tal ato seria a excomunhão. Como resposta, Leão III chegou a mandar uma frota de navios para atacar as cidades italianas, mas ela foi destruída por tempestades. Ele também quis tirar certos territórios do domínio do papa e colocá-los sob seu controle, mas antes que a questão fosse resolvida faleceu, em 741.

Seu filho e sucessor foi Constantino V, que também compartilhava das inclinações paternas a respeito da veneração de imagens. Para estabelecer um consenso sobre a questão, convocou um concílio com 338 bispos, a se reunir em 754. Esta reunião, também conhecida como Concílio de Hieria, pode ser considerada como o ponto alto do movimento iconoclasta, uma vez que autorizou as ações iconoclastas com base no segundo mandamento cristão. Mesmo que ele tivesse sido anulado mais tarde, ainda se provaria um ponto chave para afastar Constantinopla e Roma tanto do ponto de vista religioso quanto político, criando as bases para a criação da Igreja Ortodoxa.

Séculos mais tarde, já no período das Reformas, Martinho Lutero viu o uso da iconoclastia como um instrumento de ação daqueles menos estudados. Hoje, o termo iconoclasta costuma ser associado em geral àqueles que desafiam preceitos tradicionalmente estabelecidos.

Bibliografia:

https://origemdaigreja.blogspot.com/2015/02/a-iconoclastia.html

https://www.britannica.com/biography/Leo-III

https://cleofas.com.br/historia-da-igreja-a-controversia-das-imagens/

http://www.uel.br/pos/mestradocomunicacao/wp-content/uploads/Iconoclastia-digital-Deus-Jesus-e-Maria-MARCIA-ELAINE-FERNANDES-PEDRALINO.pdf

https://cleofas.com.br/concilios-concilio-de-niceia/

https://speminaliumnunquam.blogspot.com/2015/02/concilios-anulados-da-igreja.html

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