Imigração italiana em Santa Catarina

Por Fernanda Paixão Pissurno

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

Categorias: Brasil Republicano, Idade Contemporânea
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A imigração italiana no Brasil, e especificamente nos estados da região sul como Santa Catarina, inscreve-se em um movimento maior das transformações socioeconômicas ocorridas no continente europeu do século XIX. Uma das regiões atingidas seria o futuro país da Itália. Em paralelo ao processo de unificação nacional, que culminou em 1871, iniciou-se à vinda de imigrantes italianos para diversos países sul-americanos, incluindo o Brasil.

A maior parte dos italianos que chegaram em Santa Catarina eram originários de uma região organizada ao redor da cidade de Trento, ao norte do país; na década de 1830, seria organizada a primeira colônia italiana no estado. Nomeada como Nova Itália, ela enfrentaria uma série de dificuldades e logo seria abandonada. Entretanto, outras colônias seriam fundadas na região e conseguiriam prosperar. Neste sentido, destacam-se as colônias de Nova Trento, Porto Franco e Brusque.

Quatro décadas depois, seria iniciada nova leva de colonização italiana no Brasil, motivada pela procura de mão-de-obra após a abolição da escravatura no país, em 1889. Na época, milhares de imigrantes se instalariam em Santa Catarina em regiões isoladas como Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra, Pedras Grandes, Nova Veneza e Turvo, que eram tomadas por florestas e pouco ocupadas por brasileiros. Tratavam-se de terras menos férteis dos que haviam sido anteriormente ocupadas por brasileiros e alemães; de qualquer forma, a descendência da leva de 1870 conseguiu prosperar. Poucas décadas depois, no período em que ocorreu a Segunda Guerra Mundial, existiam quase 100.000 famílias italianas em Santa Catarina. A comunidade era tão grande que praticamente não se usava a língua portuguesa. A partir da década de 1920, porém, o governo italiano passou a limitar a vinda de novos imigrantes ao Brasil como um todo após ter conhecimento de condições de vida desfavoráveis.

Imigrantes italianos em Santa Catarina por volta da virada do século XIX para o XX. Foto: autor desconhecido.

Em Santa Catarina, seriam popularizadas pelos italianos hábitos alimentares como o consumo de uva, milho, fumo e vinho, sendo que este último rapidamente passou a ser produzido em larga escala, alimentando a industrialização da região. O potencial da região rapidamente foi reconhecido por imigrantes italianos mais ao sul, que viajaram para Santa Catarina e se estabeleceram ao oeste do estado. A nova população ajudou consideravelmente no crescimento numérico da descendência do grupo imigrante: atualmente, inclusive, calcula-se que os habitantes com ancestrais italianos respondem aproximadamente por metade da população do estado.

Tal população deixou significativas marcas culturais em Santa Catarina. À medida que a população de origem italiana deixava seu isolamento e se integrava na sociedade brasileira - em um processo que atingiu seu auge após o fim da Segunda Guerra Mundial -, influências arquitetônicas, gastronômicas, religiosas e linguísticas começaram a se fazer sentir na região sul brasileira como um todo. Do ponto de vista arquitetônico, os italianos ajudaram a popularizar o modelo do telhado inclinado, pensado originalmente para facilitar o deslizamento de neve. Do ponto de vista gastronômico, a rica culinária italiana não só ajudou na popularização da pizza e do espaguete no Brasil, mas também auxiliou no crescimento do consumo de alimentos como polenta, toucinho e pão.

Do ponto de vista religioso, foram os descendentes de italianos os responsáveis pela construção de um modelo familiar tradicional e católico, especialmente forte ainda hoje na região sul do Brasil. Por fim, do ponto de vista linguístico, diversas palavras e termos provenientes do dialeto vêneto evoluiu naturalmente no país, dando origem à uma versão abrasileirada chamada de Talian. É estimado que cerca de 500.000 pessoas saibam falar esse dialeto atualmente, existindo rádios, sites e publicações diversas que buscam fortalecer essa faceta da influência italiana no Brasil.

Em 2 de junho de 2008, por meio da lei no 11.687, ficou determinado que o Dia Nacional do Imigrante Italiano passaria a ser comemorado em 21 de fevereiro.

Leia também:

Bibliografia:

http://benvenuticidadania.blogspot.com/2012/07/os-italianos-em-santa-catarina.html

http://bloggeografiaolavo.blogspot.com/2007/12/os-imigrantes-italianos-de-santa.html

http://www.prenota4u.com/comunidade-italiana-de-santa-catarina/

https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/italianos/regioes-de-destino.html

https://coisadeitaliano.com.br/2019/02/01/imigracao-italiana/

https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/fundacao-cultural/fcblu/memaoria-digital-imigraacaao-italiana92

https://ndmais.com.br/noticias/temer-sanciona-lei-federal-que-ignora-imigracao-italiana-em-santa-catarina/

http://embassybrasilia.com.br/site/a-imigracao-italiana-no-brasil/

https://pesquisaitaliana.com.br/talian-o-dialeto-italiano-que-vive-firme-e-forte-no-brasil/

http://guide.supereva.it/portoghese/interventi/2008/11/talian-il-dialetto-veneto-brasiliano

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