Logo depois da retirada das tropas soviéticas do território afegão, em 1989, e da derrubada do regime comunista, os diálogos entre as várias facções para formar uma junta de coalizão fracassam e, aproveitando o vácuo de poder, o Taliban – ‘estudantes’, no dialeto farsi, milícia sunita da etnia dos pashtuns, maioria no país – assume o governo. Está então instaurado o fundamentalismo islâmico no Afeganistão, em 1996. Seus integrantes mais poderosos eram meros ulema, estudantes e universitários, inclusive seu líder, Mohammed Omar. Mais de um milhão de pessoas morrem neste combate fratricida, e milhões estão exilados em países próximos. Esta guerra civil já dura mais de duas décadas. O mais irônico desta situação é estes guerrilheiros, conhecidos como mujahidin, terem sido incentivados, treinados e equipados pelos Estados Unidos, Paquistão, Arábia Saudita e China na guerra contra os soviéticos. Logo depois os norte-americanos se voltam contra seus antigos aliados.
O país também tem sofrido com as vicissitudes econômicas, que provocaram um crescente empobrecimento da população, estimulado ainda mais por escassos suprimentos naturais e pela seca que durante cerca de dois anos atingiu esta região, disseminando a fome e a miséria. A situação piorou ainda mais depois que as tentativas de alcançar a paz e a unificação do poder - através da união entre a Frente Islâmica Unida de Salvação do Afeganistão (Fiusa), grupo composto de várias etnias e tribos da oposição, e o Taliban -, promovidas pela Arábia Saudita, falharam. Neste contexto, o governo revolucionário foi duramente acusado pelos países vizinhos de incitar rebeldes e separatistas contra o poder oficial. Os EUA, responsáveis pelo poder adquirido por esta facção, passaram a pressionar os Taliban para que expatriassem Osama Bin Laden, o saudita terrorista, líder da Al Qaeda, na verdade antigo convidado dos aliados afegãos da potência norte-americana. O Afeganistão se viu isolado no Oriente Médio, e países como o Paquistão - que também apoiou os rebeldes contra a União Soviética -, encontram-se neste momento em uma situação delicada, pois indiretamente são também responsáveis pela ascensão do Taliban.
É neste contexto que, no dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos sofrem um atentado que entra tragicamente para a História. As Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, são atingidas por dois aviões e totalmente destruídas. Uma terceira nave colide com o Pentágono, em Virgínia. O quarto avião caiu no Sul da Pensilvânia, após um conflito entre alguns passageiros e os terroristas, e tinha provavelmente como alvo a Casa Branca. Esta foi a maior ação dos inimigos contra os norte-americanos em seu próprio território. Os adversários seqüestraram quatro aviões, dois da American Airlines e os outros da United Airlines, as maiores empresas aéreas da América, e os utilizaram como armas contra os Estados Unidos. Aproximadamente três mil pessoas morreram neste ataque, o que gerou entre os americanos um terrível trauma, aliado a uma raiva ainda maior. Osama Bin Laden e seu grupo terrorista assumiram as responsabilidades pelo atentado. E então o Afeganistão, acusado de apoiar o saudita, tornou-se o alvo número um das tropas norte-americanas. Assim tem início a chamada Guerra ao Terror, instaurada pelo Presidente George Bush.
O Congresso implanta várias leis para proteger o país e aprova a decisão do Presidente de invadir o Afeganistão, como uma represália ao atentado cometido em território americano. Assim, no dia 07 de outubro de 2001, tropas norte-americanas, apoiadas pela Aliança do Norte, revoltosos afegãos que apoiaram os EUA contra os terroristas da Al Qaeda e os Taliban, invadiram este país, aliadas também a forças internacionais do Reino Unido, do Canadá e da Austrália. A investida contra o governo foi vitoriosa, pois lograram expulsar os Taliban do poder. Mas lutas incessantes prosseguem entre a coalizão que substituiu o antigo governo e facções rivais. Durante os combates, os norte-americanos conseguiram atingir alvos estratégicos, obtendo êxito ao prender supostos terroristas no Afeganistão, que foram presos na base militar de Guantánamo, em Cuba. Bush não lhes concedeu os direitos de prisioneiros de guerra, pois ele os considerou soldados ilegítimos. Conseqüentemente, estes rebeldes não tiveram direitos básicos resguardados, e fala-se hoje de abusos e torturas inomináveis que teriam ocorrido neste local.
O Presidente George W. Bush, que em junho de 2003, segundo a BBC, alegou seguir os desígnios divinos ao invadir o Afeganistão e, logo depois, o Iraque, caracterizando assim um certo fundamentalismo cristão, não teve poderes extraordinários para devolver ao Afeganistão a paz tão desejada, perdida desde a invasão da União Soviética. Grupos dissidentes continuam a combater entre si e, nas províncias, os Taliban continuam a subjugar e a causar terror na população local. Por outro lado, os norte-americanos se consideram vitoriosos, mais do que no Iraque, pois no Afeganistão julgam ter desestruturado boa parte da organização terrorista Al Qaeda.