As denominadas Invasões Francesas no Brasil só devem ser consideradas como tal a partir do período denominado "descobrimento do Brasil", em 1500 e, especialmente, com o estabelecimento das Capitanias Hereditárias, em 1534, as quais inauguram a colonização portuguesa na América. No entanto a presença francesa nessas regiões datam de antes daqueles eventos. O próprio Estado francês teria sido o primeiro a contestar o Tratado de Tordesilhas (1494).
Em documentos datados de 1524, de autoria do francês Georges Fournier, narrativas apontavam que marinheiros de Dieppe (França), teriam alcançado o litoral brasileiro bem antes dos portugueses. Naquela ocasião, teriam chegado à desembocadura de um grande rio com características bem semelhantes ao rio Amazonas, nas proximidades do delta, no atual Estado do Pará. Em outra narrativa, o navegador francês Jean Cousin teria desenvolvido uma espécie de sociedade comercial e empreendido uma viagem exploratória em 1488. Cousin teria navegado até os Açores, sendo de lá arrastado por uma corrente marítima em direção ao Oeste, dando em terras desconhecidas, junto “à boca de largo rio”. Antes de retornar à França, teria ainda explorado grande parte do sul da África, aportando no Cabo da Boa Esperança, que naquele mesmo ano teria sido “descoberto” e contornado pelo navegador português Bartolomeu Dias. Tais narrativas davam aos franceses a primazia no descobrimento não só do Brasil, como de toda a América.
De todo modo, para os portugueses, no contexto colonial, os franceses seriam sempre tomados como invasores de seu império marítimo no ultramar. Mas, nem por isso, os franceses deixaram de empreender suas relações comerciais. Mesmo após o Governo Geral (1548-1549), os corsários continuariam a manter fortes relações comerciais com as diferentes populações indígenas do litoral, especialmente Tamoios e Tupinambás. As especiarias eram os principais produtos cobiçados pelos franceses. Traziam vários produtos da Europa (facas, machados, tesouras, dentre outros), transformando a cultura material do Novo Mundo na medida em que eram levados à cobiça dos produtos do além-mar e por eles transformados. Intentaram por, pelo menos, duas vezes estabelecer colônias em território português, ambas foram mal sucedidas.
A primeira delas ficou conhecida como França Antártica, ocorrendo entre 1555 e 1565, quando os franceses estabeleceram uma colônia em uma pequena parte do litoral brasileiro denominada de Baía da Guanabara, localizada no atual Estado do Rio de Janeiro. Naquela ocasião, cristãos e protestantes franceses empreenderam, junto ao Estado um breve empreendimento que não perdurou por conta das investidas portuguesas e indígenas na reconquista da região e pelas precárias condições de sobrevivência dos colonos. Doenças, fomes, miséria, fugas, deserções e mesmo a má administração concorreram para o desmanche daquele empreendimento.
A segunda tentativa, em 1612, denominada de França Equinocial, assim como a primeira, tinha como um dos objetivos principais garantir uma parcela dos produtos ameríndios enviados para a Europa e a conquista de territórios no Novo Mundo. Esta ocorreu nas regiões do atual Estado do Maranhão, onde franceses fundaram a cidade de São Luís, atual capital daquele Estado. Fortaleceram relações comerciais com indígenas e intentaram a colonização que perdurou apenas até 1615, quando foram dali expulsos pelos portugueses e indígenas. Estabeleceriam colônias na região denominada à época de Costa Selvagem (regiões da atual Guiana Francesa) e dali empreenderiam suas relações comerciais com os indígenas do delta amazônico até meados do século XVIII, mas não criaram outros estabelecimentos coloniais em territórios portugueses ultramarinos.
Referências:
BICALHO, B.; FERNANDA, Maria. A França Antártica, o corso, a conquista e a" peçonha luterana". História (São Paulo), v. 27, n. 1, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/his/v27n1/a04v27n1; Acesso em: 25 out. 2017.
FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. estudos avançados, v. 27, n. 79, p. 277-280, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142013000300020&script=sci_arttext&tlng=es; Acesso em: 25 out. 2017.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira – Tomo I: A época colonial – do descobrimento à expansão territorial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.