Missões jesuíticas

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição:


Ouça este artigo:

[...] se as relações dos índios com a civilização constituem o elemento essencial da história desta parte da América, a intervenção dos jesuítas foi de tal ordem, que bem pode dizer-se ser a história da Companhia, por si só, uma história completa da colonização. (Azevedo: 1901).

A gênese da Companhia de Jesus (1534) ocorreu no contexto das Reformas Protestantes que abalaram a Europa no despontar do Período Moderno. Alguns estudiosos consideram a sua criação como parte de uma série de mecanismos desenvolvidos pela Igreja Católica a partir daquilo que poderíamos denominar de Contrarreforma ou Reforma Católica. Inácio de Loyola é considerado o grande mentor da Ordem de Cristo. Suas filosofias conformam a base do pensamento inaciano. Diferentes de outros missionários, os jesuítas se constituíram por uma missionação de caráter secular, tendo como principal projeto a construção de um Império Cristão intercontinental. Espalharam-se por todo o mundo empreendendo as mais diferentes estratégias para expansão da cristandade.

No Brasil, a Companhia de Jesus foi, certamente, a ordem religiosa mais atuante no Período Colonial. Estabeleceram colégios, criaram Aldeamentos Indígenas, monopolizaram a administração da mão de obra e aprenderam a Língua Geral (Nheengatú). Seu modelo de catequese aliava os interesses da Coroa Portuguesa com os ideais da Igreja a partir de um sistema denominado Padroado Régio. Assim, o discurso da conversão dos índios (para salvação de suas almas) poderia ser considerado quase sinônimo de cooptação para o trabalho. Conforme apontou Baêta Neves, a catequese jesuítica se constituiu como um esforço racional para conquistar homens, tendo como objetivo valorizar semelhanças e anular diferenças.

A chegada dos jesuítas ao Brasil data de 1549 e se relaciona ao fracasso do sistema de Capitanias Hereditárias e ao estabelecimento do Governo Geral no Brasil. Tais eventos resultantes, especialmente, das relações conflituosas entre os donatários das capitanias e os índios. A função dos jesuítas era evangelizar e incentivar os indígenas a assimilar os costumes europeus. Obviamente, as resistências indígenas foram parte do cotidiano das missões. Na Amazônia, a chegada dos jesuítas esteve relacionada ao fim da União Ibérica (1580-1640). Muitos aldeamentos se constituíram como verdadeiras instituições de fronteira. A efetivação das primeiras missões na região datam do início do século XVII.

As relações entre missionários, colonos e povos indígenas estiveram longe de serem pacíficas. Somente da Amazônia, os jesuítas foram expulsos em 1661, 1684 e 1759, ano em que também foram expulsos de Portugal, no contexto do Período Pombalino. Passaram por um processo de supressão na Europa, entre os anos de 1773 e 1814 quando, enfim, Pio VII restaurou a legalidade da Ordem. Seu maiores expoentes no Brasil foram os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. Na Amazônia, o padre Antônio Vieira foi o responsável pela gênese do grande projeto regulado pelo Regimento das Missões (1686-1757).

Na relação com os indígenas, os missionário consideravam poligamia, canibalismo e nudez como os maiores desafios da conversão. A incessante luta para civilizar esses povos se caracterizou por relações interculturais conflituosas. Daí a ideia de que as missões se constituíram como tentativa de conquista espiritual, cultural e territorial das populações indígenas, resultando em processos de etnocídio e genocídio de centenas de grupos no contexto do processo colonial mais amplo. Por princípio, se deve considerar que a missionação não foi homogênea. É preciso dar conta das especificidades de cada ordem missionária, assim como verificar a atuação dos jesuítas a partir dos processos históricos e conjunturais nos quais estiveram inseridos.

Bibliografia:

ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

AZEVEDO, João Lúcio d’. Os jesuítas no Grão-Pará: suas missões e a colonização. Belém: SECULT, [1901] 1999.

CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz de. Índios Cristãos: poder, magia e religião na Amazônia Colonial. Curitiba: CRV, 2017.

LEONARDI, Victor. Entre árvores e esquecimentos: história social nos sertões do Brasil. Editora UnB, 1996.

NEVES, Luiz Felipe Baêta. O Combate dos Soldados de Cristo na Terra dos Papagaios. 1974.

UGARTE, Auxiliomar Silva. Alvores da conquista espiritual do alto Amazonas (século XVI/XVII). SAMPAIO, Patrícia Melo; ERTHAL, Regina de Carvalho (Orgs.). Rastros da memória: histórias e trajetórias das populações indígenas na Amazônia. Editora da Universidade Federal do Amazonas, p. 13-47, 2006.

http://www.jesuitasbrasil.com/newportal/institucional/nossa-historia/; Acesso em: 24 set. 2017.

http://www.jesuitas.pt/De-1829-a-1834-218.aspx; Acesso em: 24 set. 2017.

 

Arquivado em: Brasil Colônia
Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição: