Noite das garrafadas foi o nome pelo qual ficou conhecido o enfrentamento entre brasileiros e portugueses ocorrido no Rio de Janeiro expondo a insatisfação de parte da população com o reinado de D. Pedro I em um momento de grande instabilidade política.
Para se compreender melhor esse acontecimento, é necessário o entendimento da crise política na qual se encontrava o Brasil àquela época. Quando houve a dissolução da Assembleia constituinte e a outorga da constituição (constituição outorgada é aquela imposta, sem os trâmites burocráticos de um governo democrático) no ano de 1824, D. Pedro foi vendo sua popularidade entrar em franco declínio, com insatisfação popular e perda de apoio de sustentação política. Isso ocorreu, dentre outros fatores:
- Governo absolutista expresso, por exemplo, na concentração de poderes através do poder moderador;
- Violência da repressão à Confederação do Equador, uma revolta com caráter liberal e republicano ocorrida em 1824 em algumas províncias nordestinas. Caso emblemático foi de um dos líderes, Frei Caneca, que após ser condenado pela sua participação na Confederação do Equador, acabou sendo fuzilado após todos os carrascos se recusarem a executar o enforcamento;
- Guerra da Cisplatina envolvendo Brasil e Argentina que se iniciou com a revolta dos moradores da região Cisplatina (atual Uruguai) contra a dominação do Brasil. Os combates duraram aproximadamente dois anos e resultou em várias derrotas das forças armadas brasileiras, só terminando com a intervenção da Inglaterra e assinatura em 1828 de um acordo entre os dois países participantes;
- Sucessão do trono português envolvendo D. Pedro I devido a morte de D. João VI no ano de 1826. Mesmo tendo abdicado do trono de Portugal em favor de sua filha D. Maria da Gloria, os brasileiros suspeitavam e criticavam o interesse de D. Pedro pelos negócios portugueses.
Tentando recuperar sua popularidade, D. Pedro I realizou em 1830 uma série de viagens às províncias brasileiras. Ao voltar da viagem que fez a Minas Gerais (onde teve reações frias e pouco calorosas), os portugueses residentes no Rio de Janeiro o receberam com homenagens (acenderam fogueiras nas ruas) que não foram aceitas pelos brasileiros, que reagiram apagando as fogueiras e dando vivas à Constituição, a resultando no conflito entre eles, a Noite das Garrafadas, que foi assim descrita:
“A cena de uma rua é, a um só tempo, a mesma de todo o quarteirão. Os pés de chumbo (portugueses) deixam que a cabralhada (brasileiros) se aproxime o mais possível. E inesperadamente, de todas as portas, chovem garrafas inteiras e aos pedaços sobre os invasores. O sangue espirra, testas, cabeças, canelas... Gritos, gemidos, uivos, guinchos.
É inverossímil.
E a raça toda, de cacete em punho, vai malhando... E os corpos a cair ensanguentados sobre os cacos navalhantes das garrafas.” (Correia, V.,1933,p.42)
A noite das garrafadas teve como consequência a nomeação pelo imperador de um novo ministério que era composto apenas por brasileiros, isto não foi, porém, o suficiente para acalmar os ânimos. Então, um novo ministério, conhecido por Ministério dos Marqueses foi nomeado 15 dias depois. Esse ato causou reação popular em 7 de abril, com apoio de segmentos das tropas militares, se reuniram no Campo de Santana protestando contra o governo. Não tendo mais apoio político ou militar, D. Pedro I renuncia o trono em nome de seu filho D. Pedro de Alcântara – ainda menor de idade – e retorna a Portugal.
Bibliografia
Telecurso: História: ensino fundamental / Hebe Maria Mattos de Castro (coordenadora); Américo Oscar Guichard Freire... [et al.]; revisão e ampliação de conteúdo Alessandra Carvalho, Monica Lima. 1.ed.- Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2008.
Seriacopi, Gislaine Campos Azevedo. Reinaldo Seriacopi. História: volume único 1.ed, São Paulo: Ática, 2005.
Apostila Editora COC, Ciências humanas, História do Brasil 2 – Brasil Império