O Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) originou-se de uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em abril de 1968. A cisão no PCB ocorreu no VI Congresso do partido, em dezembro de 1967, no entanto, as divergências quanto aos rumos políticos do país no pós-Golpe Militar de 1964 já se estendiam desde 1965. A fração que formou o PCBR e outras dissidências propunha a via insurrecional, proposta destoante da admitida pela maioria do Comitê Central do Partido. No VI Congresso, essa fração foi expulsa do PCB, a lista de expulsos foi divulgada no periódico do partido Voz Operária. Com esse desabono da maioria do Comitê Central do PCB à luta armada, parcela desses militantes expulsos fundou o PCBR.
O PCBR reivindicava o pensamento marxista-leninista e declarava apoio aos regimes socialistas pelo mundo, sobretudo, aos que surgiram na América Latina. O partido buscava uma leitura própria do desencadeamento do socialismo no Brasil, desse modo, considerava importante refletir sobre as peculiaridades do país e quais seriam os desdobramentos dessas particularidades no processo revolucionário. Devido a essa concepção da revolução brasileira, o PCBR não se alinhou à União Soviética, como o fez o PCB, nem à China, como o PC do B, embora se declarasse solidário aos regimes desses países.
O documento “Linha Política”, escrito para a fundação do PCBR, caracterizou o Brasil como um país onde o capitalismo já havia se desenvolvido plenamente, dessa forma, abandonava a leitura do PCB que a revolução no Brasil seria realizada em duas etapas (burguesa e socialista). Se o capitalismo já estava consolidado no país, não havia, portanto, a necessidade de aliança com a burguesia nacional para a efetuação de uma revolução burguesa que romperia os laços com o imperialismo estadunidense. A leitura do PCBR era que a burguesia nacional já era sólida e alinhava-se ao imperialismo. Dessa forma, a burguesia brasileira identificava-se com o capitalismo internacional, com o desenvolvimento do latifúndio e com as práticas de dominação imperialistas no Brasil.
Após o Golpe Militar de 1964, o PCB optou pela via pacífica de aliança com a burguesia nacional, já os dissidentes que compuseram o PCBR propunham que a revolução seria armada e se insurgiria contra o Regime Militar e contra a burguesia. Para o PCBR devia ser realizada uma Revolução Popular no país de cunho anti-imperialista e antilatifundiária que se converteria em seguida em Revolução Socialista. A luta armada que desencadearia a revolução deveria estar associada às lutas das massas populares e partiria do campo. Segundo o historiador Jacob Gorender, a opção pela relação entre a luta armada e as lutas de massas evidenciava o distanciamento do método do foco guerrilheiro adotado na Revolução Cubana (Cf. GORENDER, 2014:116).
A divergência teórica entre o PCB e o PCBR resultou em caminhos práticos opostos para as duas organizações. Enquanto o PCB dedicou-se a atenuar os achaques da ditadura por meio dos trâmites legais – malgrado a condição de ilegalidade que lhe foi imposta –, o PCBR iniciou os preparativos para a luta armada. Apesar de não adotarem o método do foco guerrilheiro, Mário Alves, um dos fundadores do PCBR, dirigiu-se a Cuba para realizar o treinamento de guerrilha, no final do ano de 1968. Na época, o governo cubano priorizava o treinamento de militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), pois a considerava a organização mais apta a encabeçar a revolução brasileira (Cf. Idem: 117).
A incipiência do treinamento para a luta armada e os empecilhos à luta de massas dificultavam a atuação do PCBR. No ano de 1968, houve um ascenso nas lutas de massas, nas quais o PCBR interviu ativamente, contudo, esse período ascensional foi seguido pelo recrudescimento da repressão do Regime Militar, ocasionando o fechamento político que reduziu as possibilidades de ação do PCBR. Diante desse cenário, parcela do partido acreditava que se devia desencadear imediatamente a luta armada. Em 1970, o PCBR organizou expropriações a bancos para arrecadar verbas para a guerrilha e planejou o sequestro do cônsul do Japão, em Recife, que seria a moeda de troca para o resgate de presos políticos (Cf. Idem: 206; 219).
Militantes que realizavam pichações de palavras de ordem do partido nas ruas foram presos, em 1970. Segundo Gorender, após essas prisões que começou a desarticulação do PCBR em decorrência das sucessivas prisões, torturas e mortes dos militantes do grupo; o historiador destacou a tortura e o desaparecimento do secretário-geral do partido, Mario Alves, como uma das perdas da organização que implicaram a implosão do PCBR que encerrou as atividades em 1973.
Referências:
Brasil. Comissão Nacional da Verdade. Relatório/ Comissão Nacional da Verdade. Vol. 1. Brasília: CNV, 2014. Disponível em: http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_1_digital.pdf. Acessado em 18 de fevereiro de 2020 às 10h e 10m.
GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Expressão Popular, 2014. p. 102-103; 114-118; 171; 203-205; 218-219; 228-229.
REIS FILHO, Daniel Aarão & SÁ, Jair Ferreira de. Imagens da Revolução: Documentos Políticos das Organizações Clandestinas de Esquerda dos anos 1961-1971. Rio de Janeiro: Ed. Marco Zero, 1985. p.160 – 179.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/partido-comunista-brasileiro-revolucionario/