Revolta de Mandu Ladino

Graduada em História (UFRJ, 2016)

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A Revolta de Mandu Ladino foi uma revolta indígena onde os vários índios, liderados pelo indígena Mandu Ladino resistiram a dominação dos colonos, opondo-se a alguns fazendeiros entre os anos de 1712 a 1719.

É importante saber o contexto da revolta. No século XVII, o ouro e as pedras preciosas estavam sendo explorados e atraindo muitas pessoas para as regiões das Minas Gerais e para o interior do Brasil como um todo. Isso ocorria desde o ano de 1693, quando foi encontrada a primeira jazida de ouro pelos bandeirantes. Por conta desse achado, muitas pessoas vieram da Europa para explorar essa nova atividade e tentar ganhar a vida. Mas nem só de ouro e prata era feita as regiões das minas, era necessário o abastecimento de comida e produtos básicos para todas as pessoas que lá agora viviam. O gado, por exemplo, era muito importante e valioso neste momento, pois produzia carne para a sobrevivência das pessoas que moravam nas minas. Desta maneira, as fazendas de gado na região se multiplicaram pelo interior para abastecer a grande população, que aumentava cada vez mais. A invasão de terras no interior para criação de gado para o abate e a venda de carnes era algo comum nesse período.

Mas é importante ter em mente que essas terras não estavam desocupadas. Desde muito antes dos portugueses ali chegarem, os índios já as habitavam, e a expansão das fazendas para a criação de gado só prejudicou os nativos. Essa expansão também era importante para os donos de terras, pois o gado fornecia não somente a carne, mas também o couro e os próprios bois serviam como meio de transporte nas zonas mineradoras. Isso tudo gerava muito lucro e incentivava os fazendeiros a invadirem mais terras, levando à expulsão dos nativos da região. Outro fator importante para o avanço das fazendas no interior do Brasil foi a assinatura de uma carta régia em 1701, que proibia a criação do gado próximo ao litoral, tendo que deixar essas terras para a plantação de cana de açúcar. Todo esse contexto só serviu para a expansão das fazendas em terras indígenas.

A revolta teve início no ano de 1712, no interior do Piauí, quando Antônio da Cunha Souto foi morto pelos índios que estavam revoltados com a crueldade do fazendeiro. O movimento ganhou força a partir desse ponto, sendo liderado por Mandu Ladino que era da tribo dos Cariris e que fora batizado e educado pelos jesuítas em Pernambuco, quando ficou órfão de pai e mãe aos 12 anos de idade. Tinha muita raiva dos colonizadores já que estes destruíram sua tribo e mataram seus pais, sem mencionar a quantidade de vezes que presenciou os religiosos destruírem a cultura e crença de seu povo. Assim, o movimento ganhou fôlego e seguiu para o Maranhão chegando até o Ceará. Nesse conflito, muitos portugueses morreram. Mas os fazendeiros também tiveram a ajuda dos aldeamentos jesuítas e organizaram uma grande e poderosa expedição contra os índios revoltosos no ano de 1716 chefiado por Francisco Cavalcante de Albuquerque. Em 1719 os portugueses fazendeiros conseguem capturar o líder Mandu Ladino, que morre ferido e afogado num rio, pondo fim à revolta indígena.

Mandu Ladino é muito respeitado até hoje em algumas tribos como um espírito libertador, guerreiro e desbravador.

Referências Bibliográficas:

Anais do IV Encontro Internacional de História Colonial. Volume 11. Histórias e Memórias Indígenas. Link em: http://www.ufpa.br/pphist/documentos/Vol.%2011%20-%20Historias%20e%20memorias%20indigenas.pdf

FONSECA, Rodrigo Gregolineto. A Pedra e o Pálio: Relações Sociais e Cultura na Capitania do Piauí no século XVIII. Teresina: 2010. Link em: http://www.leg.ufpi.br/subsiteFiles/mesthist/arquivos/files/Dissertacoes/Dissertacao_Rodrigo%20Gerolineto.pdf

MOTT, Luiz. “Conquista, aldeamento e domesticação dos índios Gueguê do Piauí: 1764-1770”. Revista de Antropologia, USP, vol.30-31-32, 1987-1989, p. 55-78. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/41825749?seq=1

___________. “Os índios e a pecuária nas fazendas de gado do Piauí colonial”. Revista de Antropologia, USP, vol. 22 (1979), pp. 61-78. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/41615941

Arquivado em: Brasil Colônia
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