Revolução Americana

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

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Para compreender um pouco melhor os fatores que possibilitaram a chamada Revolução Americana que estouraria nas 13 colônias americanas na década de 1770, é importante retornar ao século anterior e entender como se deu o processo de colonização das novas terras pela Inglaterra. Iniciando-se em 1607, na região da Virgínia, ele assumiria três formas diferentes: concessão de terras às companhias de comércio para exploração e implantação de colônias, doação real a famílias nobres ou da alta burguesia, e, finalmente, colonização por grupos puritanos (calvinistas), que ali procuravam criar uma nova sociedade. Com este amplo movimento em três vias, milhares de colonos se instalariam no continente durante o século XVII, tomando no processo as terras que anteriormente pertenciam aos habitantes indígenas originais. Contudo, os próprios processos de colonização diferenciariam bastante a região ao Norte da região ao Sul.

As colônias do Sul foram, de início, habitadas majoritariamente por aventureiros em busca de riqueza rápida. Em 1649, com a deposição e execução do rei Carlos I de Inglaterra na sequência da Guerra Civil Inglesa e proclamação da República sob Oliver Cromwell, antigos defensores da monarquia foram para estas terras, onde seriam grandes proprietários de terras e escravos. Isto geraria em breve uma sociedade altamente hierarquizada, rural e conservadora. As colônias do Norte, por sua vez, se tornariam abrigo daqueles que fugiam de perseguições religiosas, que organizariam uma sociedade mais igualitária, que tinha a educação como prioridade. Além disso, a própria natureza da chegada de tais colonos às novas terras tornaria sua sociedade particularmente independente da metrópole inglesa, numa tendência que se espalharia para as colônias mais ao Sul.

Diferentemente das colônias portuguesas e espanholas do mesmo período, portanto, as 13 colônias contavam com um sistema de auto governabilidade, tendo assim relativa autonomia política, embora ainda fossem vinculadas às leis inglesas. No século XVIII, contudo, esta autonomia foi progressivamente diminuída com diversas restrições e imposições da metrópole, que passou, por exemplo, a proibir que as 13 colônias tivessem fábricas que competissem com indústrias inglesas, ou exportar sua produção agrícola para qualquer outro país que não fosse a Inglaterra, fazendo a insatisfação dos habitantes crescer gradualmente.

Já na década de 1750, os gastos efetuados durante a Guerra dos Sete Anos contra a França deixou a Inglaterra em péssima situação financeira. Para se reequilibrar, a metrópole optou por submeter às colônias a mais tributos. Assim, foram aprovados vários novos impostos para produtos de uso diário dos colonos – como açúcar, selo e chá. Essas medidas foram muitíssimo impopulares, e logo os primeiros protestos e boicotes contra o governo britânico ocorreriam. Além disso, as assembleias coloniais passaram a questionar o próprio direito do governo inglês de tributar os habitantes, uma vez que as 13 Colônias não tinham representação qualquer no Parlamento. Como resultado da movimentação dos colonos, a metrópole acabou por suspender todas as novas taxas, menos o imposto sobre o chá.

Tendo isso em vista, os colonos passaram a adquirir o chá livre de impostos dos Países Baixos, mas as tensões sobre o que viam como um tributo indevido apenas continuaram a crescer. Em 1773, depois que um carregamento de chá da Companhia Britânica das Índias Ocidentais foi atacado por colonos disfarçados de indígenas, que atiraram todo o conteúdo ao mar na chamada Festa do Chá, o Parlamento inglês ocupou militarmente a cidade de Boston e restringiu os poderes da Assembleia local. Essas medidas ficariam em breve conhecidas como Leis Intoleráveis.

Em setembro do ano seguinte, representantes de todas as colônias se reuniram no Primeiro Congresso Continental e conceberam uma petição pedindo o fim de tais medidas, que enviaram ao rei George III. A revogação, contudo, não ocorreria e, algumas semanas antes do Segundo Congresso Continental, tropas britânicas entraram em confronto com grupos de colonos armados, fazendo o rompimento inevitável e a criação de um Exército Continental Americano, liderado pelo coronel George Washington. A guerra propriamente dita, contudo, só estouraria em julho de 1776, depois da entrega da Declaração de Independência e a criação oficial dos Estados Unidos da América. Para convencer habitantes ainda indecisos, uma obra fundamental seria Senso Comum, de autoria do inglês Thomas Paine (1737-1809). Fortemente inspirado pelos ideais iluministas, Paine defenderia com hábeis palavras a necessidade de se separar de um governo déspota, que apenas explorava e prejudicava as 13 Colônias.

Capa original de Senso Comum, de Thomas Paine.

A guerra contra a antiga metrópole duraria até 1781, quando os colonos, apoiados por França, Países Baixos e Espanha, derrotaram definitivamente os ingleses na batalha de Yorktown. A metrópole reconheceria oficialmente a independência do novo país dois anos mais tarde, e a primeira Constituição do novo país – com fortes influências iluministas – seria promulgada em 1788.

Rendição das tropas inglesas na batalha de Yorktown, 1781.

Cumpre relembrar, entretanto, que a população ainda se encontrava bastante dividida em suas lealdades nacionais. Estas fortes diferenças se encontrariam na base da Guerra Civil Americana (melhor conhecida como Guerra de Secessão) que ocorreria menos de um século depois.

A guerra foi encerrada formalmente em 1783, com a assinatura do Tratado de Paris, em que a Inglaterra reconheceu a independência dos Estados Unidos da América.

Bibliografia:

SERIACOPI, Gislane Campos Azevedo; SERIACOPI, Reinaldo. “A formação dos Estados Unidos”. In: História: volume único. São Paulo: Ática, 2005. pp. 246-250.

WOOD, Gordon. A Revolução Americana. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

http://super.abril.com.br/comportamento/senso-comum/

Arquivado em: Idade Moderna
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