Em 1950 Getúlio Vargas retorna à presidência da República através da aprovação pelo voto direto. Diferentemente dos quinze anos que já ocupara a cadeira de presidente, desta vez chegava ali de forma democrática e em um cenário completamente novo do encarado durante o Estado Novo. O Brasil era uma democracia e com ela vinham todos os trâmites e disputas políticas próprias do sistema.
O Congresso Nacional não era composto exclusivamente por aliados de Vargas, tendo em suas bancadas aqueles políticos que formavam uma oposição aos ideais nacionalistas do Presidente.
Ações de Vargas como, por exemplo, a criação da Petrobras em 1953 com a campanha “O Petróleo é nosso” desagradou profundamente uma parcela importante do empresariado brasileiro, pois a ideia de uma empresa completamente Estatal não condizia com os rumos que esse setor pensava para a economia brasileira. Diante disso a oposição no Congresso se intensifica. Outra medida considerada populista pela oposição foi o aumento do salário mínimo em 100%, claramente também desagradou o setor empresarial.
Entre os opositores destaca-se a oposição da UDN (União Democrática Nacional), principalmente na figura de Carlos Lacerda, jornalista e político de grande influência, era a principal força contrária ao governo de Vargas. O posicionamento de Carlos Lacerda nos jornais buscava desestabilizar o governo com uma intensa ação.
A campanha de oposição ao governo de Vargas se intensifica após o evento que ficou conhecido como “Atentado da Rua Tonelero”. No dia 5 de Agosto de 1954 o jornalista Carlos Lacerda sofreu um atentado na rua em que morava. Seu segurança, um Major da Aeronáutica morreu e ele sofre um ferimento no pé.
Carlos Lacerda ocupa a dianteira na denuncia à Vargas como mandante do atentado, e suas denúncias ganham corpo quando a polícia encontra indícios de que o homem de confiança de Vargas esteve na cena do crime. O “Anjo Negro” como era conhecido Gregório Fortunato assumiu que participou da ação contra Lacerda, o que colocou consequentemente Vargas na situação de mandante, o que nunca chegou a ser provado, pois a investigação encarou diversas incoerências.
Mas devido à morte de um oficial militar, as forças armadas se uniram aos opositores políticos de Vargas e com uma campanha forte buscavam que Vargas renunciasse ao cargo de presidente.
Em 24 de agosto do mesmo ano de 1954 depois de anunciar ao seu Vice, Café Filho, que renunciaria ao cargo, Vargas dá outro rumo à História. Enquanto seus opositores já comemoravam a noticia de que o Presidente eleito renunciaria, Vargas, em seu gabinete após escrever uma carta onde explicava os motivos de seu ato, desfere um tiro contra o peito que atinge seu coração. Ele que já havia dito anteriormente que não sairia do Palácio do Catete vivo, cumpre a promessa e “sai da vida para entrar na História”.
As rádios passaram a anunciar a morte de Vargas e a lerem a “carta testamento” constantemente, insuflando na população um desejo de vingança pela morte do “Pai do Povo”, contra aqueles que provocaram o ato “heroico” de Vargas. Assim a população sai às ruas quebrando e destruindo carros do Jornal O Globo e invadiram a sede do Jornal Tribuna da Imprensa.
O suicídio de Getúlio Vargas tem uma importância prática na História, ela atrasa em 10 anos o golpe militar. Esses que já estavam preparados para tira-lo do poder vêm seus planos interrompidos pela atitude drástica tomada por Vargas, e para além a própria ação popular fortemente reativa aos opositores de Vargas, um cenário contrário a qualquer atitude que pudesse ser tomada pelos militares naquele momento.
Em sua “Carta testamento” Vargas afirma:
Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao senhor, não de crimes que contrariei ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes. Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus. [...] Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. [...]
Referências bibliográficas:
BAUM, Ana (org.). Vargas, agosto de 54 a História contada pelas ondas do rádio. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
SKIDMORE, Thomas E. Brasil : De Getúlio Vargas a Castelo Branco. São Paulo: CIA das Letras, 2010.