A teoria da História consiste no estudo da própria História e o trabalho do próprio historiador. Tal conceito passa a ser utilizado a partir do século XIX, quando a História passa a ser vista como uma disciplina – e uma ciência, e assim como qualquer outra prática científica requer um embasamento teórico e metodológico para a sua prática.
Importante ressaltar que a História não surgiu apenas no século XIX, mas foi apenas neste período que ela ganhou outra notoriedade. Ao analisarmos a própria História nos deparamos com indivíduos que escreveram relatos de seu tempo, a exemplo de Heródoto, conhecido pela alcunha de “o pai da História”. Este pensador grego que viveu por volta do século V a.C. propõe-se a narrar e registrar os eventos que se passaram na Grécia Antiga, com grande destaque para as Guerras Médicas.
Em outros tempos, na Idade Moderna, por exemplo, Maquiavel escreve uma obra conhecido como Discursos sobre as primeiras décadas de Tito Lívio. Aqui o autor florentino, expõe algumas reflexões sobre o texto do autor que nomeia o seu livro. Tito Livio, por sua vez, também pode ser considerado um historiador, pois escreveu uma obra dedicada a contar as origens de Roma, desde o seu nascimento até o século I d.C.
Enquanto os dois outros dois autores antiguidade citados, que se limitam a um trabalho, basicamente, daquilo que habituou-se chamar de cronistas da história, pois apenas narram os fatos; Maquiavel faz uma análise de uma dessas obra, ou seja, utiliza-a como fonte primária, seu documento. Ainda que em uma numa tendência muito mais filosófica do que histórica o escrito de Florença, tateia a história de outra forma, a partir de um distanciamento temporal do objeto de estudo.
Conforme escreveu o historiador francês, Marc Bloch, a respeito da história, esta é “o espetáculo das atividades humanas, que forma seu objeto específico, é mais do que qualquer outro, feito para seduzir a imaginação dos homens. Sobretudo quando, graças ao seu distanciamento no tempo ou no espaço, seu desdobramento orna das sutis seduções do estranhamento.” (Bloch, 2001), O que o historiador nos coloca é algo fundamenta na análise história, quanto mais distante de seu objeto de estudo, melhores são as possibilidades de entendimento deste. Do contrário, constrói-se uma visão míope da História, embaçada por eventos do calor do momento.
Uma analogia para compreender essa ideia é a expressão “olho do furacão”. Aquele que está dentro do furacão, pode não ter uma noção plena das dimensões do da tormenta e seu impacto. Já o espectador, aquele que observa de fora, com certo distanciamento espacial e, às vezes temporal, consegue ter uma maior dimensão do evento.
O que não se pode acreditar é que a História é apenas uma análise de fatos do passado. E aqui a teoria da História passa a ser fundamental, ao pensarmos no conceito separadamente, “teoria” é uma forma de sistematização, de observar um determinado evento e/ou fenômeno, com o intuito de descrever e analisar, no caso do historiador, a partir de fontes documentais. Mas, ao dizer que o trabalho do historiador não se limita a análise, quer-se dizer que há algo além. Afinal “essa ação não ocorre no vazio. Ela é realizada por indivíduos, os quais carregam consigo, conscientemente ou não, uma série de influência que os formam enquanto seres. Por conseguinte, por mais que se tente ser impessoal, a formulação de uma teoria sempre acontece a partir de determinados valores, ideias e percepções do sujeito observador, o qual está inserido em um tempo, espaço e circunstâncias de seu tempo.” (Mello, 2012). Ou seja. o fazer histórico é também fruto de seu tempo.
Ainda de acordo com outro historiador francês, Michel De Certeau, “Antes de saber o que a história diz de uma sociedade, é necessário saber como funciona dentro dela. Esta instituição se inscreve num complexo que lhe permite apenas um tipo de produção e lhe proíbe outra. Tal é a dupla função do lugar” (Certeau, 1982).
Talvez, seja inclusive, falar em teorias da História, dessa forma, no plural, uma vez que o fazer historiográfico é extremamente diversificado.
No início do século XX, um movimento de historiadores que se propuseram a pensar a história para além de uma mera leitura documental, ficou conhecida como Escola dos Annales, além de ampliar a ideia de fonte documental, até então muito restrita a textos escritos, considerando relatos orais, objetos arqueológicos, imagens e outros como fontes também. A grande questão ao Annales, é que estes estabeleciam padrões extremamente empíricos para o estudo da História. Não que a teoria tenha sido deixada de lado, mas ficou em segundo plano, certamente.
Para além disso, o fazer do historiador está permeado de reflexões, analisar o documento e conversar com este, questionar o documento quanto a sua produção: em que contexto foi produzido? Como? Por quê? Com qual finalidade?
Em suma, a teoria da História deve ser parte fundamental à pesquisa história, uma vez que “pretende compreender os mecanismos de elaboração, distribuição, recepção e legitimidade de um conhecimento histórico acadêmico aceito como relevante entre os praticantes do ofício.” (Mello, 2012).
Bibliografia:
BLOCH, Marc. Apologia à História, ou, o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001.
CERTEAU, Michel. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
MELLO, Ricardo Marques de. O que é teoria da História? Três possíveis significados. Uberlância/MG: História e Perspectiva, nº 46, 2012, p. 365-400.
TAVARES, Ana. Debate sobre Teoria da História. Site Café História, 03 mar. 2016. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/debate-sobre-teorias-da-historia/, acesso em 04 fev. 2022.