Tomada da Crimeia pela Rússia (2014)

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição:


Ouça este artigo:

O termo Tomada da Crimeia pela Rússia - também conhecido como Questão da Crimeia, Crise da Crimeia ou mesmo Anexação da Crimeia – foi um evento militar de importância internacional protagonizado pela Rússia e pela Ucrânia em março de 2014 cujas consequências ainda hoje ressoam no cenário geopolítico mundial.

A Crimeia é uma região estratégica do ponto de vista político-geográfico, estando localizada ao norte do Mar Negro. A península já foi habitada por povos como os cimérios, os romanos, os hunos e os otomanos; no século XVIII, a vitória russa na guerra contra os turcos permitiu a anexação da Crimeia ao Império Russo liderado pela imperatriz Catarina, a Grande. Já durante o século XX, o líder comunista Nikita Khrushchov cedeu a região para a Ucrânia em um gesto simbólico durante a comemoração do 300º aniversário da anexação da Ucrânia ao Império Russo.

Mapa da região da Crimeia. Ilustração: Peteri / Shutterstock (adaptado)

Com a dissolução da União Soviética em 1991, a Crimeia continuou a pertencer à Ucrânia como uma república autônoma, muito embora a maior parte da população tivesse origens russas e uma lei de 2012 tenha tornado o russo uma língua oficial. A partir de novembro de 2013, porém, a impopular decisão do presidente Viktor Yanukovich de recusar-se a assinar um tratado comercial com a União Europeia provocou intensos protestos que levaram à destituição e fuga do presidente para a Rússia em fevereiro de 2014. A grave dissensão que se seguiu permitiu que o parlamento de Crimeia aprovasse às pressas a sua independência da Ucrânia e a adesão da região à Rússia, gerando uma crise separatista com a Ucrânia.

Enquanto isso, milhares de soldados russos eram enviados secretamente para a região, e seriam em breve reunidos com ainda mais tropas enviadas pelo governo de Vladimir Putin a pedido do destituído presidente Viktor Yanukovich. Ainda que a Rússia argumentasse que a ação visava proteger seus cidadãos em meio à crise, a forte ligação histórica da Rússia com a Crimeia, em adição à presença da frota russa no Mar Negro, na estratégica posição próxima ao Mar de Arzov, motivou um rápido movimento para oficializar a anexação, o que ocorreu em 21 de março. Ainda antes, no dia 16, a população da Crimeia aprovou massivamente a adesão à Rússia por meio de um referendo. Entre o início da crise ucraniana e o seu fim havia se passado somente cinco meses.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin. Foto: Evgenii Sribnyi / Shutterstock.com

Quase que de imediato, o avanço russo sobre a Crimeia provocou reações de outros países. Os EUA acusaram a Rússia de não ter base legal para o envio dos soldados, defendendo que a soberania ucraniana sobre o seu território foi violada com a ação. Outros importantes países, como a Alemanha, a França e o Reino Unido, concordam com tal posição.

A Tomada da Crimeia pela Russia colocou a região como um todo em um limbo geopolítico, uma vez que a anexação não é reconhecida por diversos países. Por consequência, a própria Rússia enfrentou um período de considerável isolamento internacional, sofrendo inclusive sanções econômicas, embora isso não tenha impedido protestos a favor dos russos em outras cidades ucranianas, como Kharkiv e Donetsk, aparentemente desejosas de seguir o exemplo da Crimeia.

Protestos contra e a favor da Rússia ocorreram em vários lugares. Na foto, protestante pró-Ucrânia em Washington, EUA. Foto: Andriy Blokhin / Shutterstock.com

Mais recentemente, em novembro de 2018, a região passou por nova crise após os russos abrirem fogo e capturarem navios ucranianos que haviam entrado sem permissão em suas águas territoriais. Logo após o evento, o governo ucraniano declarou lei marcial em suas fronteiras com a Rússia, o que ainda pode provocar agravamento das tensões locais. Cerca de 10.000 pessoas já morreram, e aproximadamente meio milhão de ucranianos atravessou a fronteira para se refugiar na Rússia desde o início da disputa.

Bibliografia

https://br.rbth.com/arte/viagem/2014/04/06/historia_da_crimeia_comecou_ha_7000_anos_24987

https://www.publico.pt/2014/03/03/mundo/noticia/crimeia-um-interesse-estrategico-de-que-a-russia-nao-quer-abdicar-1626838

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/03/entenda-crise-na-crimeia.html

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/03/140319_golpe_crimeia_lk

https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/bbc/2014-03-04/saiba-quais-sao-os-interesses-da-russia-na-regiao-da-crimeia.html

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/03/tropas-russas-cercam-base-aerea-na-crimea-e-dao-ultimato-1.html

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,tomada-da-crimeia-marca-fim-da-nova-ordem-mundial-imp-,1156784

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/11/27/russia-teme-escalada-na-tensao-na-regiao-da-crimeia-apos-ucrania-aprovar-lei-marcial.ghtml

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição: