Unidade 731 foi um setor de saúde pública japonês que, no contexto de tensões políticas-militares com a China, tornou-se um centro de teste de armas biológicas, utilizando-se de prisioneiros chineses como cobaias em suas terríveis experiências até ser fechada ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Ao final do século XIX, China e Japão entraram em conflito na chamada Primeira Guerra Sino Japonesa, motivada pelo crescente expansionismo japonês. A curta guerra resultou na anexação da Península da Coreia pelo Japão e em relações políticas negativas entre China e Japão que se prolongaram pelas décadas seguintes. Quando se iniciou a Guerra Civil Chinesa entre os nacionalistas e os comunistas, em 1927, abriu-se uma oportunidade para o Japão aproveitar a fraqueza do país vizinho e expandir ainda mais sua influência no Oriente. Tal chance começou a ser concretizada após o Incidente de Mukden, em 1931, quando uma sabotagem feita por japoneses perto da região chinesa da Manchúria foi utilizada como pretexto para que, seis anos depois, uma guerra total entre os dois países fosse declarada na sequência de um desentendimento entre tropas chinesas e japonesas no Incidente da Ponte Marco Polo.
Era o início oficial da Segunda Guerra Sino Japonesa, que duraria por oito anos e foi marcada não apenas pelas frequentes violências sexuais ocorridas, que atingiram o seu auge durante o chamado Estupro de Nanquim, quando milhares de mulheres foram estupradas e mortas em um período de cerca de seis semanas, mas também pelas infames experiências científicas conduzidas na Unidade 731. Localizada na Manchúria, ocupada pelos japoneses ainda em 1931, seu objetivo oficial era efetuar pesquisas na área química e biológica. Na prática, a unidade realizou milhares de experimentos cruéis com cobaias humanas e, ao final, mais de 10.000 prisioneiros estavam mortos.
Na liderança da Unidade 731, estava o militar Shiro Ishii. Microbiologista de profissão, ele teve uma carreira de sucesso antes de se tornar o diretor da Unidade 731, onde autorizou uma série de procedimentos que tinham como foco gerar vantagens bélicas para o exército japonês. Sem qualquer preocupação com a ética médica ou o bem-estar das cobaias, Ishii permitiu, entre outras barbaridades, que prisioneiros ficassem pendurados até a morte, fossem mantidos em câmaras com até -50 graus Celsius, fossem expostos à demasiada radiação, ficassem sujeitos às forças altíssimas da gravidade das centrífugas, tivessem a circulação de determinados membros do corpo restritas, recebessem injeções com urina ou sangue de cavalo, fossem usados como alvos humanos para o teste de granadas e sofressem vivissecção sem anestesia – ou seja, passassem por uma autópsia ainda vivas.
Particularmente, Ishii e sua equipe tinham interesse no estudo no desenvolvimento das doenças no corpo humano, uma vez que avanços nessa área poderiam trazer vantagens inimagináveis para os japoneses em uma possível guerra bacteriológica. Além de autorizar que prisioneiros fossem infectados com bactérias perigosas como a Yersinia Pestis, causadora de doenças como a Peste Negra, e mais tarde armazená-las em bombas para que fossem soltas sobre vilarejos chineses, Ishii ordenou que prisioneiros homens fossem infectados com doenças sexualmente transmissíveis, para depois obrigá-los a estuprar prisioneiras mulheres. Uma vez que elas engravidavam, as gestações eram interrompidas em diferentes estágios e os fetos examinados para que fosse melhor compreendido como a transmissão os afetavam. Nem as mães nem os bebês sobreviviam ao processo.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os registros dos eventos ocorridos na Unidade 731 foram destruídos e Ishii fingiu sua própria morte para escapar dos norte-americanos. Quando a farsa foi descoberta, ele negociou sua imunidade em relação aos crimes de guerra cometidos em troca de todo o conhecimento científico que conseguira, o que foi aceito. Em 1959, ele morreu sem jamais ter sido preso, assim como qualquer outro membro da Unidade 731.