A Primeira Guerra Mundial costuma ser um marco histórico bastante utilizado para estabelecer a transição da realidade herdada do século XIX ao mundo cheio de inovações tecnológicas do século XX. No caso dos conflitos armados pode-se dizer que houve de fato uma mudança radical, com a entrada de novas armas de uma capacidade de aniquilação nunca antes vista. Este artigo trata de uma destas armas, o gás venenoso, que hoje em dia tem seu uso proibido como artefato bélico.
Em 1914, a ciência e a tecnologia evoluíam em diversos campos, e com o conflito, crescem os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de uma série de armamentos. A Alemanha foi a primeira grande potência a realizar estudos mais aprofundados de gases venenosos. A 22 de abril de 1915, as tropas germânicas horrorizaram os soldados aliados ao longo do front ocidental ao lançar mais de 150 toneladas de gás clorídrico contra duas divisões francesas em Ypres, na Bélgica. Foi o primeiro grande ataque a gás que devastou as linhas aliadas. Ao longo do primeiro grande conflito mundial, a Alemanha continuaria a utilizar em larga escala tal artifício.
Durante a guerra foram utilizados basicamente três tipos de gases venenosos: o gás lacrimogêneo, o gás cloro e o gás mostarda. A princípio, o exército francês e alemão utilizaram o gás lacrimogêneo como arma no front. Ao longo da guerra, o gás lacrimogêneo cedeu lugar ao gás cloro na preferência dos exércitos alemão, francês e inglês.
A utilização de gases tóxicos contra os inimigos nos campos de batalha, em especial durante o período da Guerra de Trincheiras, se mostrou de difícil controle, pois muitos desses gases eram fabricados e armazenados em estado líquido, e precisavam se volatilizar durante a sua aplicação. Isso se mostrou uma característica pouco desejável para os exércitos, uma vez que em algumas frentes as temperaturas eram muito baixas, tornando sua aplicação quase impossível. As condições climáticas também dificultavam a aplicação quando a direção do vento mudava ou havia alguma alteração brusca de temperatura, fazendo com que os exércitos provassem do seu próprio veneno.
Os gases tóxicos provocaram centenas de milhares de mortos durante a guerra, apesar de seu uso ter sido quase sempre questionado. Devido aos problemas de manipulação e controle da carga aplicada, algo precisava ser feito para que a aplicação do gás fosse mais eficiente e certeira, e assim surgiu o gás fosfogênio. Com a idéia de lançar a carga através da artilharia o fosfogênio se mostrou muito mais potente que o cloro, altamente sufocante e ainda mais estável de se manipular do que os outros gases utilizados. O fosfogênio teve muitas vezes o seu efeito retardado, no organismo, por diversos fatores e isso acabou vitimando soldados aparentemente saudáveis até 48 horas após a sua inalação.
No total, mais de cem mil toneladas de agentes químicos foram despejadas na guerra, cerca de 500 mil soldados foram feridos e cerca de 30 mil mortos. Nos anos que se seguiram, Reino Unidos, França e Espanha usaram armas químicas em vários conflitos coloniais, apesar da crescente crítica internacional.
Em 1925, o Protocolo de Genebra baniu o emprego das armas químicas na guerra mas não proibiu seu desenvolvimento ou armazenagem. A maioria das grandes potências formou importantes reservas de armas químicas. Nos anos 1930, a Itália empregou armas químicas contra a Etiópia e o Japão as usou contra a China. Na Segunda Guerra Mundial não ocorreu guerra química, principalmente porque os beligerantes possuíam tanto as armas quanto as suas defesas que faziam delas ineficazes. A Alemanha, no entanto, usou gás venenoso para exterminar milhões em seus campos de concentração.
Bibliografia:
A utilização de gases tóxicos durante a Primeira Guerra Mundial. Disponível em <http://www.
Hoje na História: 1915 - Alemães introduzem o gás venenoso na Primeira Guerra. Disponível em <http://operamundi.uol.com.br/
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/uso-de-gas-venenoso-na-primeira-guerra/