A apóstrofe é a figura de linguagem que consiste em interromper a narração para dirigir a palavra a pessoas ausentes ou ao leitor. Sintaticamente, a apóstrofe exerce a função de vocativo dentro de uma sentença. Veja alguns casos:
Tende piedade de mim, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade.
(Vinícius de Moraes)
Observe que, nestes versos, o poeta faz uma interpelação emotiva, dirigindo-se ao “Senhor”, que se encontra entre vírgulas, cumprindo a função de vocativo dentro do verso. Trata-se então de um recurso expressivo.
Outros exemplos de apóstrofe:
Não basta inda de Dor, ó Deus terrível!
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal.
(Fernando Pessoa)
No cotidiano, a apóstrofe é bastante utilizada. Ela está presente nas orações religiosas: “Pai nosso, que estás no céu...”; nos discursos políticos: “Povo de Juazeiro! É com grande alegria...”, e em situações diversas: “Minha Nossa Senhora, o que foi isso?!”; “Valha-me Deus, que eu não posso mais com esse menino”.
O escritor Machado de Assis emprega freqüentemente a apóstrofe em seus textos, com a finalidade de aproximar seus escritos da linguagem coloquial falada, permitindo um contato direto entre o escritor e o leitor. Veja um exemplo disso num trecho retirado de Dom Casmurro:
No seminário... Ah! não vou contar o seminário, nem me bastaria a isso um capítulo.
Para consultar mais exemplos na obra de Machado de Assis, recomendo a leitura do artigo de Joaquim Mattoso Câmara Jr, na Revista Eletrônica Linguasagem, no site:
http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao08/artigos_camara.php
Fontes
PIRES, Orlando. Manual de Teoria e Técnica Literária. Rio de Janeiro, Presença, 1981, p. 102.
SAVIOLE, Francisco Platão. Gramática em 44 lições. 15 ed. São Paulo, Ática, 407.
TUFANO, Douglas. Estudos de Língua Portuguesa – Minigramática. São Paulo, Moderna, 2007.