Recebe o nome de Dialetos Portugueses do Uruguai (DPU) um grupo de dialetos da língua portuguesa falados no extremo norte do Uruguai, e fronteira com o Brasil.
Os DPU não são, como alguém poderia pensar inicialmente, resultado da influência cultural brasileira sobre seu vizinho de fronteira. Tais dialetos são parte da formação histórica do próprio Uruguai, e existem praticamente desde o desenvolvimento da colonização do território desse país. Uma análise mais profunda da história da região mostra que os primeiros núcleos colonizadores do norte do Uruguai eram portugueses, dedicados a ocupar a área do mesmo modo como no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Assim, os DPU formam um contínuo do desenvolvimento da língua portuguesa a sul do continente, e isso significa dizer que os dialetos identificados naquele país possuem características próprias sofrendo influência constante do espanhol uruguaio, além do português utilizado pelos meios de comunicação brasileiros (especialmente o português urbano de São Paulo e o falar carioca) além do português riograndense ou gaúcho.
A pesença do português no Uruguai foi identificada pela primeira vez em 1958 pelo linguista José Pedro Rona, que fazia pesquisas sobre a língua espanhola no norte de seu país. Ele relatou que a língua falada na fronteira, especialmente entre Rivera (URU) e Santana do Livramento (BRA) (somente pelos uruguaios) era uma mescla de português e espanhol, incompreensível tanto para brasileiros quanto para uruguaios falantes do espanhol standard. Mais tarde, percebeu-se que além desta expressão de fronteira, mais adentro do território uruguaio, haviam outras variedades de português falado tanto por moradores do meio urbano como rural. Esse conjunto foi batizado por outro linguista uruguaio, Adolfo Elizaincin, com o nome Dialetos Portugueses do Uruguai. Ainda são necessários estudos para se estabelecer quantas formas da língua portuguesa estão presentes no norte do Uruguai, pois em certas áreas há maior influência do espanhol, em outras, maior influência do português brasileiro.
A política do governo uruguaio, desde a segunda metade do século XIX, foi a de negar tal faceta da cultura de seu país, procurando acentuar o componente hispânico em toda a cultura nacional, buscando assim distanciar-se do Brasil, sua antiga metrópole. Durante muito tempo os falantes dos DPU eram encarados pelo restante dos uruguaios como incultos e donos de uma língua que merecia ser aperfeiçoada, algo semelhante aos preconceitos que o dialeto caipira sofreu e ainda sofre no Brasil. Os nomes com que os próprios uruguaios se referem aos DPU atestam tal depreciação: portuñol, bayano, fronterizo ou misturado.
Hoje lentamente são feitos esforços para reverter tal política, apesar de os DPU correrem o risco de desaparecer em algumas gerações. Nas escolas das áreas de fronteira com o Brasil é garantido o ensino bilíngue português/espanhol e recentemente a língua portuguesa tornou-se matéria obrigatória no ensino primário uruguaio. Mas, o mais importante é que as populações do norte do Uruguai, que possuem tal cultura, vão adquirindo consciência da riqueza de sua expressão.
Pequeno vocabulário:
- La silla em espanhol - sia em DPU - cadeira em português.
- El trabajo em espanhol - trabalhu em DPU - trabalho em português.
- El agujero em espanhol - bujero em DPU - buraco em português.
- El liceo em espanhol - liceu em DPU - colégio em português.
- Barajar em espanhol - abaralhar em DPU - baralhar em português.
- Aproxímate em espanhol - aprochega em DPU - chega em português.
- El bizcocho em espanhol - bolachinha em DPU - biscoito em português.
- Baldosa em espanhol - beldoza em DPU - cerâmica em português.
- Preocupado em espanhol - atarantado em DPU - atordoado em português.
- Vichar em espanhol - bombear em DPU - olhar em português.
Bibliografia:
JUDD, Michael T. O Dialeto fronteiriço do Uruguai: origens, investigações e oportunidades. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/073/73esp_juddpt.htm>. Acesso em: 19 out. 2011
FERNANDEZ, Freddy. Portuñol de Rivera pasó de estigma a riqueza lingüística (em espanhol). Disponível em <http://www.elpais.com.uy/ProDig/Uruguayos/06/03/16/esp_urugud_206659.asp>. Acesso em: 19 out. 2011