Fonema

Mestre em Linguística (USP, 2019)
Graduada em Letras (USP, 2016)

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Fonema é o nome que se dá à representação mental da realização física dos sons. Quando nós falamos, emitimos diferentes sons. Alguns são vocálicos enquanto outros são consonantais, por exemplo. Neste artigo, discutiremos o que é o fonema, como eles podem ser classificados e como distingui-los.

A definição de um fonema

A definição de um fonema se dá na relação que os sons estabelecem entre si na língua. Podemos defini-los como unidades que:

  • i) são linearmente segmentáveis, isto é, é possível segmentá-las na linearidade em que são produzidas,
  • ii) não são dotadas de sentido, mas possibilitam a distinção de significado entre palavras.

Com relação ao fato de serem linearmente segmentáveis, fica simples entender esse conceito quando percebemos que, ao falar uma palavra, não emitimos vários sons de uma vez só. Cada som componente da palavra é enunciado um depois do outro. Por exemplo, quando falamos a palavra 'caderno', enunciamos os fonemas na seguinte ordem:

  • /k/ /a/ /d/ /e/ /r/ /n/ /u/

Aproveitamos o exemplo para destacar que a grafia de fonemas sempre é feita entre barras laterais (//). Ademais, nem sempre a grafia de um fonema corresponderá à grafia que empregamos para escrever a palavra de acordo com o alfabeto.

O nosso alfabeto não possui sinais gráficos suficientes para compreender a amplitude de fonemas existentes na língua. É bastante comum encontrarmos palavras que são enunciadas de maneiras distintas, mas que possuem a mesma grafia, não é? São exemplos:

  • Mantenha o decoro.
  • Eu decoro apartamentos.

Quando adotamos a transcrição fonética, esse tipo de confusão não ocorre, pois cada sinal representa apenas um fonema.

Ou ainda, observamos que em algumas palavras da língua o som de uma mesma letra é diferente até mesmo dentro da mesma palavra. Um exemplo disso é:

  • /'ka.sa/, em que o primeiro fonema vocálico é aberto e mais longo, enquanto o segundo é mais breve.

A distinção entre fonemas

Voltemos agora ao conceito de que os fonemas são unidades mínimas que não possuem sentido. Se fazemos uma troca de pelo menos um desses elementos em palavras da língua, elas ganham um significado diferente.

Uma maneira de identificar se dois sons são fonemas diferentes é testar a distinção utilizando pares mínimos de palavras. Fazemos isso quando selecionamos palavras em que apenas um dos sons é diferente a fim de verificarmos se a distinção de sentido ocorre.

Imagine que, por exemplo, estejamos em dúvida a respeito dos sons /p/ e /b/. Queremos descobrir se são fonemas distintos na língua, então elencamos palavras iguais em que apenas estes sejam os pontos de diferença.

Se houver diferença de significado, temos que /p/ e /b/ de fato são fonemas distintos.

Considere os exemplos abaixo, em que apresentamos alguns pares mínimos:

  • pata/bata
  • pato/bato
  • pote/bote

Em todos os exemplos, a diferença de sentido entre palavras com /p/ e /b/ é evidenciada. Portanto, são fonemas diferentes.

A classificação dos fonemas

Os fonemas são classificados de acordo com seus traços distintivos, ou seja, que levam em consideração o modo como cada fonema é pronunciado. Essas unidades podem ser divididas em:

  • fonemas vocálicos: aqueles que são produzidos sem obstrução da passagem de ar, como o /a/ de 'casa';
  • fonemas consonantais: aqueles que, de alguma maneira, apresentam um obstáculo para a passagem do ar pela cavidade oral no momento da fala, como o /k/ e o /z/ em 'casa';
  • fonemas sonoros: aqueles que não dificultam a vibração das cordas vocais, como o /g/ em 'gato';
  • fonemas nasais: aqueles em que o som é produzido tanto pela boca quanto no nariz, como /m/ em 'mãe'.

Para entender os fonemas, é indispensável ter em mente que as letras do alfabeto não são específicas o suficiente para cobrir a amplitude de fonemas do português brasileiro. Os fonemas são mais acurados em termos de distinção de significado e para ter uma melhor compreensão de quão variados são os sons de nossa língua.

Referências:

Cunha, C. & Cintra, L. (1985). Nova gramática do português contemporâneo. 2ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Fiorin, J. L. O., Meireles, I., Blacheyre, A., Farias, P. H. D., Andrade, S. L. D. S., & Felipe, W. (2003). Introdução à lingüística II: princípios de análise.

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