As modificações da Língua Latina para suas derivadas, como, por exemplo, o Português, são denominadas metaplasmos; que, de acordo com o dicionário Michaelis, quer dizer: “Nome comum a todas as figuras que acrescentam, suprimem, permutam ou transpõem fonemas nas palavras”.
O alfabeto latino passou por algumas linhas até tornar-se tal. Originou-se do fenício e possuía apenas letras maiúsculas, e foram os romanos que introduziram as minúsculas. Este mesmo conjunto de letras é utilizado na Língua Portuguesa, adicionando nesta k, w, y.
Os sons correspondentes às letras do alfabeto usado no Brasil são praticamente os mesmos do alfabeto latino. As poucas diferenças que existem entre um e outro são, por exemplo, posições vocálicas, ou seja, na língua falada neste país, tende-se a pronunciar “u” palavras que terminam em “o”; belo = bélu; já no latim, o “o” tem som de “o”.
Quando se fala da Língua Portuguesa, vale ressaltar que esta difere-se no Brasil e em Portugal. Neste último, assim como no espanhol, algumas consoantes foram mantidas igualmente e originalmente ao latim; é o caso de “objecto” e “acto”. Nas terras brasileiras, o “c” sumiu, tornando tais palavras “objeto” e “ato”.
Além das diferenças citadas anteriormente, existem outras relacionadas às consoantes, que serão aqui apresentadas, segundo Cechella (2007):
“2.1. A letra “t” antes de “i”, tem som de “s”, quando a sílaba não é tônica. Ex.: “gratia” pronuncia-se “grássia”.
2.2. A letra “j” tem sempre som de “i”. Ex.: [...] “Jesus” pronuncia-se “iésus”.
2.3. O grupo consonantal “ch” tem som de “k”. Ex.: “machina” pronuncia-se “mákina”.
2.4. O grupo consonantal “gn” tem som de “nh”. Ex.: [...] “cognosco” pronuncia-se “conhósco”.
2.5. O grupo consonantal “ph” tem som de “f”, igual ao português arcaico.”
Os consonantismos são divididos em consoantes iniciais, mediais e finais. Os primeiros, normalmente, não sofrem grande variação entre o latim e o português; os segundo podem alterar-se bastante e perder muitas letras e diferir-se quanto à sonoridade. Já as finais, assim são denominadas, pois sua posição é igual no latim e no português ou apenas a perda de algum fonema final ocorreu.
A evolução das vogais do latim para o português é chamada de vocalismo. No latim, estas podiam ser longas ou breves; além disso, “podem as vogais, segundo a posição, achar-se antes da sílaba tônica, nesta sílaba ou depois dela. Daí sua classificação em pretônicas, tônicas e postônicas. Destas, são as pretônicas e postônicas que pela sua própria natureza, ficam expostas a alterações e quedas.” (p. 12, Língua Latina).
Ditongos latinos ou românicos, assim que os mesmos são classificados em relação à sua formação. Os primeiros são chamados desta maneira ou ainda de romanos quando já apareciam da mesma forma na palavra latina. Os segundos denominam a evolução deste fenômeno da língua latina para a língua portuguesa, tendo, esta última, muito mais ditongos do que a anterior.
Sendo assim, a ocorrência registrada na frase anterior é dada devido, muitas vezes, à ditongação: síncope (queda do fonema medial. Ex.: malu - mau); vocalização (consoante transformada em vogal. Ex.: conceptu – conceito); metátase (transposição de fonema. Ex.: livrairo – livreiro); epêntese (aparecimento de uma vogal, durante a evolução, para desfazer o hiato. Ex.: creo – credo – creio). Além destes, o “ão” presente no final de vocábulos da língua portuguesa, corresponde a várias formas latinas, como, por exemplo, veranu – verão, non – não, pane – pão etc.
Outros fenômenos que também ocorrem na transição do latim para o português são a apócope, sonorização. Este diz a respeito a troca de um fonema surdo por um sonoro homorgâmico (fonemas que se pronunciam com os mesmos órgãos): amica – amiga. Quanto àquele, é quando, durante a evolução de uma língua para a outra, existe a queda do fonema final: novem – nove. Ademais, poupa-se o hiato na língua que se fala no Brasil e Portugal. Vogais iguais tornam-se únicas (teer – ter), vogal é trocada por consoante (rigeo – rijo), ditongação de um “i” (tea – teia) e, finalizando, desenvolvimento do som palatal de transição “nh” (mia – minha).
Os metaplasmos, que podem ser divididos em quatro classes: permuta, aumento, subtração e transposição. O primeiro seria a troca de um fonema por outro, o que pode ocorrer por sonorização (fonema surdo por sonoro), vocalização (fonema consonantal em vocálico), consonantização (vocálico em consonantal), assimiliação (“fonema por outro igual ou semelhante que antecede esta troca”, Cechella, 2007), dissimilação (perda ou mudança de fonema), nasalação (fonema oral em nasal), desnalação (nasal em oral), apofonia (“troca de vogal por outra, na sílaba inicial de uma palavra, quando a esta se acrescenta um prefixo”, Cechella, 2007), metafonia (mudança no som vocálico que influencia na próxima).
Seguindo as divisões dos metaplasmos, o próximo é o aumento, isto é, um fonema a mais dado ao vocábulo. Prótese, epêntese e paragoge, que, respectivamente, acrescentam um fonema no início da palavra, no meio da mesma e no final de tal. Mantendo a sequência, é a vez da subtração, que pode ser causado por aférese – perda do fonema no começo; síncope – mesmo fenômeno citado anteriormente, porém, aqui, no interior da palavra; haplologia – sumiço da sílaba quando existe há outra igual; apócope – perda do último fonema; crase – dois fonemas vocálicos similares transformados em um só; sinalefa - queda da última vogal de um vocábulo, quando o próximo inicia por vogal também.
Concluindo o artigo em questão, juntamente com a última possibilidade de metaplasmo, segue explanação referente à transposição, isto é, mudança silábica de acento ou fonema, este último que pode acontecer através de metátase e o anterior, por hiperbabismo, que ainda pode ter mais uma divisão, ou seja, sístole (transposição do acento para a sílaba anterior) e diástole (o inverso do citado entre os últimos parênteses.)
Bibliografia:
CECHELLA, N.C.T.P. Língua Latina
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/linguistica/fonetica-latina/