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O que é fonologização?
A palavra 'Fonologização' é um substantivo feminino que nomeia a mudança diacrônica que ocorre em uma língua quando uma variante de um fonema passa a participar de uma nova variante de oposição.
Isso significa que essa variante passa a ser um traço que diferencia um fone de outro fone como, por exemplo, a propriedade no /m/ que não permite que ele seja identificado como um /n/. o que será que diferencia esses dois fonemas?
Essa distinção que vem da fonologização acarreta em uma alteração no sistema fonológico da língua. Por exemplo, a mudança fonológica do fonema latino /g/ [oclusivo velar] para uma chiante sonora resultante de uma variante palatalizada: geada, geografia.
Esse processo pode ser compreendido como o potencial de um falante de determinado idioma de transformar o som de uma palavra.
Um exemplo disso é quando analisamos algumas conversas e conseguimos observar diversos processos que um indivíduo usa para expressar seu uso da língua.
A pronuncia do /t/ paulista como [ʧ], o famoso /t/ chiado que diferencia o leite do sul e de São Paulo é um caso de fonologização.
Conceito
Para a linguista Isabella Venceslau Fortunado, da Universidade Federal da Bahia, a fonologização é um dos componentes do processo de gramaticalização. Sendo que esse último é um processo de criação de formas gramaticais.
Por outro lado, Ataliba T. de Castilho define a fonologização como o surgimento de um fonema novo a partir da criação de um traço pertinente inexistente no estágio linguístico anterior a sua criação.
Castilho ainda assume que a fonologização é um dos três processos que compõem as mudanças fonológicas da língua.
Processo de fonologização
A fonologização pode ser resultado de vários processos diferentes. Alguns deles são:
(1) Uma ou mais variantes de um determinado fonema passam a apresentar valor fonológico diferente em determinados contextos ou há o desaparecimento de elementos contextuais condicionados à alofonia:
/k/ latino > /k/ ~ /t/
(2) Processo no qual há a realização contextual de um fonema de modo fundido a outro a partir da combinação com um conjunto de traços fonéticos iguais a esse último:
/k/ latino > /k/ ~ /j/
(3) Fusão entre dois ou mais fonemas em que pelo menos um deles apresente variação alofônica, ou seja, relação de semelhança entre variantes de um fonema:
/f/ latino > /f/~/v/ em consequência de /ff/ > /f/).
(4) Aglutinação, ou seja, junção de duas palavras diferentes com a redução do fonema /r/ em substantivos ou a redução do mesmo fonema em verbos no infinitivo:
Quero falâ(r) muito.
A fonologização nas vogais
Castilho aponta que o quadro das vogais do português brasileiro apresenta vogais resultantes de fonologização.
Segundo o linguista, no quadro das vogais latino-vulgares (que deram origem às vogais do português) não havia dois graus de abertura média. Já no português brasileiro as vogais médias abertas e as consoantes palatais são frutos de fonologização.
Exemplo de fonologização no cotidiano
Como dissemos, a fonologização pode ser vista na maneira individual de um falante ou de um grupo de falantes se expressar.
Com isso em mente, podemos encontrar várias ocorrências da fonologização nas regiões do país:
(1) Em alguns estados é comum os falantes “apagarem” o /d/ em verbos conjugados no gerúndio:
“Cantano” ao invés de “cantando” ou “falano” ao invés de “falando”.
(2) A diferença de sotaques por decorrência de fonologização de fonemas, como mostramos no caso da pronúncia da palavra “leite” no dialeto paulista.
(3) Redução de fonemas em pronomes:
Pronuncia da palavra “outra” como “otra”;
Por fim
O processo de fonologização diz respeito às alterações no corpo fônico (som) das palavras. O processo tem relação estreita com a dinamicidade da comunicação dos falantes e seus contextos linguísticos.
Tais mudanças não são exclusivas de um país ou região, mas de todas as línguas.
Materiais consultados:
FORTUNATO, I. V. . Gramaticalização e lexicalização das lexias complexas no português arcaico. In: José Sueli MAGALHÃES; Luiz Carlos TRAVAGLIA. (Org.). Múltiplas Perspectivas em Linguística. 01ed.Uberlândia: Edufu, 2008, v. , p. 1394-1403.