A Gramática Funcionalista é um estudo baseado na comunicação entre os usuários de uma língua natural, considerando seus aspectos pragmáticos, sintáticos e semânticos a partir do paradigma funcionalista de linguagem. Nessa perspectiva, a língua é concebida como instrumento de interação cujo objetivo principal é estabelecer a comunicação entre os falantes.
Trata-se de uma teoria funcional de componentes sintáticos e semânticos integrados e pragmaticamente adequados, a qual reconhece que a linguagem só pode funcionar comunicativamente por meio de arranjos sintaticamente estruturados. A abordagem funcionalista considera que a gramática é feita à imagem do discurso, mas o discurso nunca é observado sem a roupagem da gramática. Como diz Gebruers (1984), é uma teoria que oferece "um quadro para a descrição científica da organização linguística em termos das necessidades pragmáticas da interação verbal, na medida em que isso é possível" (p.349).
Por isso, ao investigar as relações entre a gramática de uma língua e a sua instrumentalidade de uso, ou seja, suas funções efetivas nos atos de fala e escrita, o funcionalismo considera a capacidade dos falantes de não apenas codificar e decodificar as expressões linguísticas, mas também, de fazer suas escolhas, usá-las e interpretá-las de maneira interacionalmente satisfatória.
Para além das observâncias das normas, das estruturas sintáticas dos enunciados, a perspectiva funcionalista considera a intencionalidade discursiva e as escolhas que os usuários da língua fazem para interagirem com os outros e com o mundo a sua volta.
Para o sociolinguista, as escolhas que o falante de uma língua faz para se comunicar são de extrema importância em qualquer procedimento de análise, considerando o universo de possibilidades e arranjos linguísticos disponíveis ao locutor, as relações que estabelece com seu interlocutor e o contexto de enunciação.
É chamado de Gramaticalização o processo de cristalização das formas discursivas mais produtivas, isto é, dos enunciados linguísticos integrados à língua devido a sua recorrência e relevância entre os usuários. Essa terminologia foi definida por Meillet, em 1912, como “a atribuição de um caráter gramatical a uma palavra outrora autônoma” e por Hopper e Traugott (1993), dentre outros, como “o estudo de formas gramaticais vistas como entidades em processo e não como objetos estáticos”.
Muitos processos de gramaticalização são importantes objetos de estudos e descrevem processos de mudanças linguísticas a partir dos quais alguns itens lexicais passam a assumir funções gramaticais, ou elementos gramaticais passam a exercer funções ainda mais gramaticais. Assim, para além da análise da trajetória de itens lexicais isolados, o sociolinguista investiga a gramaticalização de construções e procura identificar padrões convencionais mais ou menos gramaticalizados, considerando contextos e motivações específicas para determinados usos. Dessa forma, as novas combinações de palavras e a sua repetição em determinados contextos sociais e linguísticos contribuem efetivamente para a constituição da gramática de uma língua.
As reflexões sobre o modo funcionalista de investigação da linguagem partem do próprio modelo de interação linguística e da visão da gramática como sendo sensível às pressões do uso, integrando a organização gramatical ao interacionismo.
Essa integração de sintaxe e semântica dentro de uma teoria pragmática envolve a intervenção não somente dos papéis designados pelas predicações (funções semânticas), mas também da perspectiva selecionada para apresentação dos estados de coisas na expressão linguística (funções sintáticas) e do estatuto informacional dos elementos do contexto comunicativo em que eles ocorrem (funções pragmáticas).
A Gramática Funcional é intermediária em relação a outras abordagens mais voltadas à análise da sistematicidade da estrutura da língua ou apenas da sua intrumentalidade de uso.
Para Mackenzie, pode-se esperar encontrar aspectos funcionais ao estudar sobre a sistemática da língua. No que se refere à ordem das palavras, por exemplo, o fato de uma determinada língua escolher a ordem sintática SVO ou SOV é secundário para o funcionamento dessa língua, pois nada tem a ver com sua função. As topicalizações, extraposições, apassivações podem ser relacionadas a considerações funcionais, pois revelam parte da avaliação que o locutor faz sobre o conhecimento e as expectativas de seu interlocutor. Esses os fenômenos recebem a maior atenção por parte dos adeptos da gramática funcional.
Na perspectiva funcionalista, a descrição da estrutura da sentença parece não ser suficiente para determinar os aspectos fonológicos e semânticos da expressão linguística. A descrição completa precisa incluir referência ao locutor, ao interlocutor e a seus papéis na situação de interação determinada socialmente.
Características gerais do Funcionalismo
O Funcionalismo considera a língua como instrumento de interação social e reconhece as propriedades biológicas, psicológicas e cognitivas de seus falantes. Nesse sentido, a principal função da linguagem é mediar a comunicação entre os usuários. Para os sociolinguistas, a capacidade linguística do falante compreende não somente sua habilidade de construir e interpretar expressões linguísticas, mas também, usar seu repertório linguístico de maneira adequada/satisfatória, seguindo os modelos de interação verbal prevalecentes na comunidade linguística. Dessa forma, as expressões linguísticas são compreendidas de maneira indissociável ao contexto.
Referência:
NEVES, Maria Helena de Moura, BRAGA, Maria Luiza, PAIVA Maria Conceição. Uma Gramática de usos é uma Gramática funcional. In. Estudos em Gramática funcional. Alfa, 41(n.esp.): São Paulo, 1997, p. 15-24.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/linguistica/gramatica-funcionalista/