Paranomásia

Por Leticia Gomes Montenegro

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

Categorias: Linguística, Português
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Assim como outras figuras de som, a paranomásia é um recurso estilístico definida pela relação da sonoridade entre as palavras. Nesta figura de linguagem é necessário usar palavras parônimas para produzir o efeito desejado e enfatizar a ideia expressada pelo emissor. É preciso entender que as palavras parônimas caracterizam-se por possuírem grafia e pronúncia semelhantes, porém com significados diferentes. A paranomásia oferece a possibilidade ao falante ou ao escritor de criar jogos com as palavras relacionando-as através dos sons produzidos e brincando com os significados diversos entre elas. Há uma lista de palavras parônimas na língua portuguesa, tais como:

Docente (professor) / discente (aluno)

Ratificar (confirmar) / retificar (corrigir)

Fruir (desfrutar) / fluir (escorrer)

Tráfego (trânsito) / tráfico (comércio)

Estas são apenas alguns exemplos de termos nessa relação que podem ser usadas para construir um texto que joga com a fala e o sentido. Esse recurso também é utilizado nos trava-línguas que se valem de palavras parecidas com significados diversos e desafiam o falante a emitir todos os sons corretamente.

Veja a relação e o efeito sonoro causado pelas palavras monjolo e moela na poesia “Elogio da usina e de Sofia de Melo Breiner Andresssen” de João Cabral de Melo Neto:

O engenho bangüê (o rolo compressor, mais o monjolo, a moela da galinha.

E muitas moelas e moendas de poetas)

Vai unicamente numa direção: na ida.

(...) (página 22)

Agora perceba como o autor da música “Realejo” faz uso desse mesmo recurso estilístico, a paranomásia. Sem abrir mão de outros recursos sonoros, tais como a assonância:

Realejo

O Teatro Mágico
Será que a sorte virá num realejo?
Trazendo o pão da manhã
A faca e o queijo / Ou talvez um beijo teu
Que me empreste a alegria que me faça juntar
Todo resto do dia meu café, meu jantar
Meu mundo inteiro...
que é tão fácil de enxergar / E chegar

Nenhum medo que possa enfrentar / Nem segredo que possa contar

Enquanto é tão cedo / Tão cedo
Enquanto for... um berço meu
Enquanto for... um terço meu
Serás vida... bem vinda
Serás viva... bem viva
Em mim

Será que a noite virá num vilarejo
vejo a ponte que levara o que desejo
admiro o que há de lindo e o que há de ser... você
"Os opostos se distraem / Os dispostos se atraem"

A assonância surge na elaboração desta poesia como um recurso de destilo frequente.

Bibliografia:

ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica – brincando com a gramática. 3. ed. – São Paulo: Contexto, 2002.

ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico – brincando com as palavras. – São Paulo: Contexto, 2002.

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

HILST, Hilda. Cantares. – São Paulo: Globo: 2004. – (Obras reunidas de Hilda Hilst)

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Editora Vozes. 1977.

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Para educar crianças feministas um manifesto. Tradução: Denise Bottmann. – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

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