Enquanto o dialogismo se refere às conversações que estruturam uma dada linguagem, a polifonia tem como principal propriedade a diversidade de vozes controversas no interior de um texto. Conforme a tese do linguista russo Mikhail Bakhtin, este conceito se caracteriza pela existência de outras obras na organização interna de um discurso, as quais certamente lhe concederam antecipadamente boas doses de ascendência e ideias iluminadas.
Este elemento não tem o mesmo significado da heterogeneidade enunciativa, que alude ao potencial desenvolvimento das vozes que já estão presentes na obra, ao passo que a polifonia se refere a variadas falas que intervêm no texto. O pesquisador russo vincula esta noção ao romance polifônico, que se opõe ao monológico.
Ele se baseou principalmente na obra do escritor Fiódor Dostoiévski, seu conterrâneo e autor de clássicos como Crime e Castigo e O Idiota. Nesta modalidade polifônica todo personagem atua livremente, com ponto de vista, voz e postura pessoais, no contexto em que estão inseridos.
Uma única manifestação verbal que submete as outras expressões orais caracteriza o diálogo monofônico, enquanto as controvérsias marcam a polifonia. Alguns estudiosos, como Beth Brait, defendem que a ironia é um recurso inerente ao gênero polifônico; por outro lado, a afirmação de uma opinião traz em si tão somente uma voz predominante, portanto aí não há nenhuma possibilidade de debate.
A ficção romanesca está povoada por distintas expressões verbais de natureza social, as quais embatem entre si, lutam umas com as outras, e assim exibem suas variadas opiniões sobre algo; em contextos assim há definitivamente a presença da polifonia, e o escritor russo é, conforme o modo de ver de Bakhtin, o produtor do romance polifônico por excelência. Em suas obras, porém, os dilemas permanecem, nada é solucionado, e a resolução dialética não comparece em suas tramas.
Neste autor, como afirma o estudioso, as múltiplas vozes e personalidades autônomas constituem a genuína polifonia, e também a virtude essencial de sua obra. Nela a faculdade racional de cada protagonista é revelada através da consciência alheia, mas em momento algum esta esfera do herói se desfaz de seu estado de pura liberdade e, assim, não se torna de fato um objeto da razão do escritor.
O dialogismo se apresenta no discurso polifônico justamente através das vozes controversas. Por outro lado, o diálogo comparece sozinho no texto monofônico, uma vez que ele sempre aparece sob um véu, do qual apenas se insinua uma voz, enquanto as outras são preservadas na sombra.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Polifonia_(linguística)
https://web.archive.org/web/20090612100428/http://www.unitau.br:80/scripts/prppg/humanas/download/dialogismo-N1-2003.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fjodor_Dostojevski