Zeugma

Por Leticia Gomes Montenegro

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

Categorias: Linguística, Português
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A zeugma compõe o conjunto de figuras de linguagem, localizando-se no campo da construção sintática. Como toda figura de construção ou de sintaxe, a zeugma caracteriza-se por modificar a estrutura frasal modelar, substituindo a coesão gramatical por uma coesão significativa. Nesse sentido, esta figura se define por consistir em uma das formas da elipse. Para alguns gramáticos ela define-se, exatamente, por ser um caso particular da ELIPSE.

Quanto à etimologia: A palavra “zeugma” é originária do grego “zeygma”, que significa; “ligação”, “vínculo”, “conexão”.

Lembre-se que a comunicação e o uso da linguagem se fazem por meios de recursos estilísticos, além da exploração de sentidos que encontra-se à disposição dos interlocutores no meio em que convivem e interagem. Por essa razão, a linguagem não se encerra nela mesma, ela ultrapassa sentidos, rompe configurações linguísticas, modifica estruturas previamente formuladas, e proporciona aos participantes interações livres de regras gramaticais. As figuras de linguagem funcionam como recursos para essa comunicação livre, menos moldada pela estrutura e mais voltada para as ideias que se quer comunicar.

Dessa maneira, a zeugma garante a estrutura sintática e a compreensão da oração tornando elíptico um termo mencionado anteriormente, nas orações seguintes.

Em outras palavras, este é um recurso da linguagem usado para evitar a repetição desnecessária, fazendo com que uma palavra ou expressão participe de dois ou mais enunciados, porém expresso em apenas um deles.

Nesse contexto, defini-se que a zeugma é a supressão de um termo em uma ou mais orações, uma vez que este foi citado na oração anterior, sem prejuízo para a compreensão do texto ou da fala.

Exemplo:

  1. O movimento popular gerou muitas transformações sociais, proporcionou mudanças radicais naquela sociedade.
    Termo elíptico: “o movimento popular”
  2. O livro da vida deveria conter ensinamentos que ninguém pode explicar, experiências que poucos conhecem e muitas histórias reais.
    Termo elíptico: “o livro da vida deveria conter”
  3. Na história de Maria aconteceu apenas mudança de atores, na de Davi mudança de atores e de cenários.
    Termo elíptico: “história”...”aconteceu”

Explicação: os enunciados fazem referência aos termos elípticos, porém não os torna explícitos nas duas orações.

Denomina-se zeugma simples a figura de linguagem em que o termo omitido é exatamente o mesmo empregado na oração anterior. Como nos exemplos 1, 2 e 3, citados anteriormente.

Tornou-se bastante usual o que se denomina de zeugma complexa. Esta figura de linguagem ocorre, principalmente, com os verbos. São os casos em que se subentende um verbo já expresso, contudo sob outra flexão. Também pode ocorrer com outra classe gramatical que sofre flexões.

Nesse sentido, verifica-se o exemplo a seguir:

A livraria era ampla e bonita, as estantes simples.

Zeugma complexa: O verbo “ser” na segunda oração está implícito, e sofre flexão com relação à primeira oração. “as estantes eram simples”.

Ou ainda, conforme o próximo texto:

Eram jovens bem sucedidos, estavam na escola de Belas artes e gostavam de estudar. Eles eram muito empenhados em suas ações, dedicados em seus estudos, mas um deles não.

O verbo “ser” sofre flexão na última oração, contudo ele está implícito. “eles eram empenhados”eram dedicados.” “mas um deles não era

Ela gosta de literatura, eu de história.

Neste caso, o termo implícito sofre flexão na segunda oração, uma vez que o sujeito muda.

A oração comparativa tornou-se um campo privilegiado de produção de efeitos estilísticos através do uso da zeugma, como apresenta o próximo exemplo:

Distantes, bem como as duas fronteiras das duas cidades pequenas do mapa.

Este último tipo de elaboração da zeugma, bem como a zeugma complexa, demonstra que esta figura de linguagem é mais utilizada na escrita, por oferecer o recurso da não repetição como um método de construção de texto.

Por fim, vale ressaltar que para alguns autores a palavra “zeugma” se apresenta no masculino, enquanto para outros no feminino. Não havendo consenso.

Bibliografia:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009

CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 15. Ed., 4° reimpressão – São Paulo: Ática, 2002.

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

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