Conto de Lygia Fagundes Telles, As Formigas está presente no livro Seminário dos Ratos e é um exemplar do que na literatura brasileira chama-se de realismo mágico ou fantástico. As formigas conta a história de duas amigas - primas e universitárias - que se mudam para uma pensão.
As duas são estudantes - uma de Direito e outra de Medicina - e nesse universo de superioridade feminina vamos encontrar, através da descrição da personagem - protagonista e narradora de 1ª pessoa - um ambiente decadente, velho, sombrio e, talvez, assustador, desses locais onde tudo pode acontecer.
A começar pela entrada, vemos a personagem dizendo: “ ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada”. Todo o ambiente e o que nele está contido tem esse ar de antiguidade e decadência.
As garotas vão se instalar num quarto da pensão e descobrem que o antigo morador deixou lá um caixote com uns ossos guardados.
A estudante de Medicina se interessa em abrir e ver, principalmente depois que descobre que o esqueleto é um artigo raro já que pertencia a um anão.
Durante a noite, o quarto é tomado por um cheiro de bolor e por uma invasão de formigas que não se sabe de onde vem e que tomam o recipiente onde está guardado os ossos, embaixo da cama da garota.
O que deixa a narrativa mais intrigante é que na mesma noite a garota sonhara com um anão, de olhos azuis, olhando para ela. Quando a outra vai investigar na caixa o que teria atraído as formigas, percebe que a posição dos ossos havia se mexido. Matam os insetos e, na manhã seguinte, não havia nenhum vestígio das formigas, embora elas não tenham limpado o local.
Na madrugada seguinte, depois de um novo pesadelo, a estudante e sua prima descobrem o retorno das formigas e que, mais uma vez, a posição do esqueleto foi alterada, parecendo que este está se reconstituindo.
Na terceira noite, elas ficam acordadas esperando para ver de onde vinham as formigas, mas adormecem, e quando acordam ficam apavoradas ao perceber que faltava apenas um osso da perna e outro do braço para que o esqueleto ficasse recomposto.
Elas fogem desesperadas da pensão.
Neste conto, a autora “brinca” com os opostos: a antiguidade e modernidade, sonho e realidade, vida e morte, curiosidade e medo, numa belíssima construção de um enredo que não se sabe como termina e que explicações podem ser plausíveis para dar veracidade aos acontecimentos.
Fontes:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/as_formigas_conto_lygia
http://manoelneves.com/2008/02/04/o-conto-da-mulher-brasileira-as-formigas-de-lygia-fagundes-telles/#.UQgOG2fAHJ9