Bocage

Por Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta

Doutorado em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (PUC-Rio, 2013)
Mestrado em Linguística, Letras e Artes (PUC-Rio, 2008)
Graduação em Jornalismo (PUC-Rio, 2001)

Categorias: Biografias, Escritores
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Manuel Maria l’Hedoux Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal, em 15 se setembro de 1765. Foi o segundo filho homem do advogado português José Luís Soares Barbosa e da francesa Mariana Joaquina Xavier Lestof du Bocage.

O menino cresceu em um ambiente impregnado de cultura, que auxiliou na precoce manifestação de seu talento poético. Foi iniciado na leitura por sua mãe e irmãs mais velhas, enquanto o pai lhe ensinou o francês, e o padre espanhol D. Juan de Medina, o latim.

Manuel Maria l’Hedoux Barbosa du Bocage (1765-1805). Via Wikimedia Commons

A mãe do poeta faleceu quando este contava apenas dez anos. Aos dezesseis, para a surpresa do pai, abandona os estudos de Humanidades, decidindo alistar-se no Regimento de Setúbal. Após dois anos, se cansa da vida no quartel e resolve se mudar para a capital Lisboa e ingressar na Companhia dos Guardas-Marinhas.

Com a chegada à Lisboa, Bocage depara-se com uma atmosfera nova e excitante, influenciada pelas ideias do Iluminismo francês. Seu temperamento febril o leva a envolver-se com várias mulheres, tendo, entretanto, se apaixonando de fato apenas pela musa Gertrúria, cuja identidade real permanece um mistério, mas sobre a qual cogitam-se os nomes de Ana Gertrudres Marecos, uma jovem de Santarém, e Gertrudes Margarida da Cunha de Eça Castelo Branco, esposa do irmão Gil Francisco.

Como integrante da Guarda-Marinha, chegou a visitar o Rio de Janeiro, em 1786, sendo recebido pelo vice-rei Luís de Vasconcelos Sousa Veiga Caminha e Faro, entusiasta das letras e belas artes, que o introduz na elegante sociedade da época. Deixando o Brasil, encaminha-se à Ilha de Goa, onde permanece por dois anos, passando, posteriormente, por Surrate, Cantão e Macau.

Retorna a Portugal em 1790, quando sua fama de improvisador chega ao conhecimento da Academia Literária da Nova Arcádia, fundada no mesmo ano, que o convida para sócio.

Um ano depois, publica o primeiro volume de suas Rimas, que rapidamente se esgota. O segundo volume só viria a ser publicado em 1799, e o terceiro, em 1804. Nessas obras, dedicou-se aos mais variados gêneros poéticos, com destaque para os Sonetos, que lhe propiciaram a ambicionada libertação dos moldes clássicos e da verdadeira dimensão de seu talento. Entre suas principais incursões nesse gênero, salienta-se o dedicado à musa “Marília”:

Olha Marília, as flautas dos pastores,
Que bem que soam, como são cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali, beijando-se, os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes
As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira;
Ora nas folhas a abelhinha para.
Ora nos ares sussurrando, gira.

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

Entre os temas favoritos do poeta, distinguem-se: o amor, os ciúmes, a morte, Deus e a liberdade, tratados com o sentimento fatalista típico dos pré-românticos. Ademais, sua obra é marcada por tons satíricos e mordazes, que o notabilizaram entre seus contemporâneos e pósteros. A opção pelo humor surge como contraponto a uma tendência melancólica de sua personalidade, aliada à inadaptação aos costumes de sua época.

Bocage faleceu no dia 21 de dezembro de 1805, com apenas 40 anos, vítima de um aneurisma na carótida, ficando consagrado como um dos maiores gênios da história da poesia lusitana.

Referência:

MOURÃO, M. A. C. & NUNES, M. F. P.; in. BOCAGE, M. M. H. B. du. Antologia Poética. Braga: Ulisseia, 2001.

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