A história Chave na Porta parece não ser narrada pela personagem e sim percebida por ela. O leitor tem contato apenas com estas percepções, e através dela vai construindo o espaço da narrativa:
“E os carros na furiosa descida pela ladeira, nenhum táxi?”
“E aquela árvore solitária lá no fim da rua, podia me abrigar debaixo da folhagem mas onde a folhagem?”
O tempo em que a história se passa:
“A noite tão escura.”
E o enredo como um todo, vai se mostrando ao leitor, segundo o que a narradora-personagem vai descrevendo a respeito do universo ao seu redor:
“Recuei depressa quando o carro arrefeceu a marcha e parou na minha frente, ele disse menina? O tom me pareceu familiar. Inclinei-me para ver o motorista, um homem grisalho, de terno e gravata, o cachimbo aceso no canto da boca. Mas espera, esse não era o Sininho? Ah! é claro, o próprio Sininho, um antigo colega da Faculdade, o simpático Sininho! Tinha o apelido de Sino porque estava sempre anunciando alguma novidade.”
Aos poucos os fatos vão se esclarecendo. Inicia-se a história com uma mulher cheia de pacotes de natal na rua à noite. Em seguida. a mulher, que antes se mostrava desamparada, sozinha, desabrigada, encontra uma figura amiga, e pega carona com ele, seu amigo de faculdade que não via há quase quarenta anos, Sininho. Acontece, porém, de ela esquecer sua bolsa com a chave do seu apartamento no carro do amigo, e resolve então ir até o antigo endereço do mesmo para recuperar a chave. Ao chegar lá, surpreende-se com a notícia de que este seu amigo havia falecido há muito tempo. Volta, então, para casa, e mais uma vez se surpreende ao saber que um senhor havia trazido sua bolsa de volta.
A narrativa é em primeira pessoa e o foco é dado à personagem principal. O título, por sua vez, pode ser compreendido por meio de diversas representações, já que sugere duas imagens tão simbólicas: a chave e a porta.
O conto de Lygia Fagundes Telles foi publicado no ano 2000 como parte do livro Invenção e Memória.
Fontes:
http://www.letraselivros.com.